segunda-feira, 30 de maio de 2011

Caminhando no lado misterioso da vida




Caminhando no lado misterioso da vida


Sonhando acordada num jeito misterioso de viver, ela imaginava um sol enigmático, talvez pelo seu jeito místico de acreditar nas forças externas, tal crença enriquecida em seus objetivos fortalecia mais e mais sua crença na relação futuro e figura, num pacto pessoal centrada e acreditando friamente nos poderes ocultos e atração não só dominadora, mas também previsora como um feche de luz capaz de revelar o que está escrito no mundo escuro do futuro.

Ela percebeu que no movimento intercalado das relações de previsão e realidade, havia uma onda diferenciada de resultados favorecendo um jogo de insinuações providas de impulsos de desejos inseguros e vontades obscuras.

Ela não estava insegura, apenas balançava a cabeça e as mãos relaxando a tensão do corpo e da mente após receber as previsões contidas nas cartas.

Se outra pessoa me contasse, eu não acreditaria, mas foi ela que me contou, já que não era um sonho e sim uma maneira de manusear o desconhecido, um meio sedutor e curioso de ultrapassar os obstáculos descartadores que estão escondidos no universo ao mesmo tempo sedutor e cruel, no qual estamos localizados querendo pegar tudo que está ao nosso alcance e por outro lado somos focados por outros com o mesmo desejo.

As dúvidas na vida da garota começaram a partir do momento em que ela conheceu uma velha cartomante, que era uma mulher serena no equilíbrio das palavras, porém trazia um olhar astuto como de uma raposa na guarda da sua ninhada.

Os segredos evocados na leitura das cartas eram profundos, carregados e temperados num tom do além, parecendo ser produto de uma força maior que a própria verdade, ou seja, trazia um poder sobrenatural de colher fontes futura como se estivesse colhendo frutos maduros em uma árvore da vida.

Olhando aquelas cartas compridas e velhas sendo manuseadas pelas mãos hábeis daquela cartomante parecem ser inofensivas e mesmo parecendo estar segura naquela consulta divinamente proibida, alguma coisa a assustava, pois aquelas cartas compridas e velhas pareciam ter sido usadas por uma eternidade de tempo, já que estavam gastas, desbotadas e até rasgadas.

Que poderes estariam escondidos naquelas figuras? Uma vez que era impossível escolher a carta previsora do destino, mesmo porque elas eram retiradas aleatoriamente, uma a uma, tal quais os dias que com suas diferenças envolve-nos em suas instabilidades.

Pensar que os conflitos da vida dela começaram em cartas embaralhadas por uma cartomante seria um erro, primeiro que não eram simples cartas, não tinha como duvidar, tudo estava escrito nelas. Segundo porque a velha cartomante lia cada detalhe e o que mais impressionava era que em cada carta havia uma figura diferente da lua descrevendo e desvendando os sentidos da vida dela em suas várias faces e fases.

Os dias rolam como a lua e esse girar constante às vezes nos deixa tontos, uma tontura parecendo quase proposital, na qual a lua com sua força magnética influi indiretamente nas nossas vidas por meio dos dias , nos conduzindo intercaladamente expostos às forças do bem ou do mal e para termos consciência de tal condução momentânea que nos domina, basta fazer uma reflexão momentânea pessoal.

A solidão e o desencanto fazem com que ela se afastasse das cartas, mas o coração a trouxe de volta, pois a paixão traidora traz em sua calda uma carência insaciável de atenção, desestabilizando momentaneamente os compassos do coração. Os dias escurecem em tempestades de dúvidas, embriagando com dificuldades e cambaleando nos passos antes firmes, porém agora medrosos e inseguros.

Há tempos ela não recorria às cartas, mas esta insegurança no amor gerou um estado de desconfiança insuportável, no qual o ciúme corrói os pensamentos e as atitudes, consequentemente toda essa agonia a levaram de volta às mãos da velha cartomante.

Se antes o local era assustador, agora é muito mais, pois parecia estar esquecido pelo mundo, já que havia apenas uma mesa e pouca luz, nem as cortinas eram abertas, porém não era isso que interessava à garota, ela queria informações além da sua visão.

A velha cartomante sentou-se calmamente à mesa, serena e com toda a tranquilidade abriu a gaveta e pegou as velhas cartas misteriosas. No exato momento em que as cartas foram pegas, algumas caíram de sua mão sendo imediatamente ignoradas pela mulher, como se não fizessem parte do destino ou fossem descartadas pelo próprio futuro.

As velhas cartas são embaralhadas tranquilamente como se tudo já estivesse previamente escrito. A primeira carta é retirada e colocada sobre a mesa, nela estava estampada a lua plena e bela, cheia de vida entre as nuvens e uma rareada neblina. Ela faz uma pequena observação na carta e interpreta em poucas palavras:

- Houve um pequeno espaço de tempo em que você permaneceu sozinha e reservada, mesmo assim estava radiante e feliz, porém agora quer abrir as cortinas do futuro.

Outra carta foi retirada e colocada na mesa, uma carta velha e rasgada faltando um pedaço. Nesta carta a lua mostrava apenas metade do rosto, parecia manter-se escondida observando a figura de um sol com raios frios e congelados.

- Você está apaixonada por alguém, porém a distância impede de sentir o seu calor.

- Está faltando um pedaço da carta. Como vou saber o que estava nesse pedaço?

- A carta é explícita e clara. Essa parte você já conhece, ou seja, é a terceira figura.

- Então é certo que existe a terceira figura?

- Você sabe a resposta, agora vou virar a última carta.

Outra carta rasgada faltando um pedaço, nela a lua estava crescente e brilhante, o sol timidamente lançava raios de calor sobre ela, porém faltava quase metade da carta.

- Ele gosta de mim?

- gosta.

- E o restante da carta? Como vou saber o que tinha na parte que falta?

- A carta é transparente nos segredos da vida, se não é mostrado, é porque você sabe o que está lá.

- Leia mais uma. Por favor!

- Não posso! Se eu fizesse isso, estaria traindo o meu pacto com o futuro oculto.

Ao levantar da mesa uma carta caiu da mão da velha cartomante, talvez por dificuldade e deficiência dos movimentos das mãos idosas e doentes. Ela imediatamente falou para a garota:

Não pegue essa carta! Porém a garota aproveitando a oportunidade rapidamente se apossou da carta e quando olhou, viu que havia apenas a figura da lua, o sol havia desaparecido de seu futuro.

Ela olhou profundamente para os olhos da velha cartomante e falou:

- A senhora é uma mentirosa! Eu não acredito nessas cartas velhas e rasgadas. Eu devia jogá-las no lixo. Depois se levantou, pegou sua bolsa e saiu apressadamente daquela casa misteriosa e escura. Ela caminhou durante um tempo e resolveu voltar para pagar e pedir desculpas.

Num pensamento confuso em idéias embaralhadas ela voltou à velha casa, ao chegar encontrou apenas a casa velha e abandonada. Não havia ninguém na casa. Qual seria a verdade de tudo aquilo?

Sem encontrar ninguém, ela foi embora caminhando pela calçada, na qual se encontrava uma mulher velha pedindo esmolas, passou sem dar atenção, depois parou, pensou e voltou. Ao chegar àquela senhora, tirou dinheiro da bolsa e entregou nas mãos dela dizendo:

- Aqui está o pagamento da consulta às cartas. Agradeceu e foi embora.

Paulo Ribeiro de Alvarenga
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