sábado, 20 de agosto de 2011

Paulinho e a boneca de pano




Paulinho e a boneca de pano

Fica aqui uma pergunta jogada ao ar:

Existe um momento na vida mais lindo do que a infância?

É fácil responder essa pergunta, basta olhar a felicidade de uma criança com tão pequenas coisas e é dessa beleza inocente com pureza de viver que nasceu a lenda de Paulinho e a boneca de pano, mas primeiro temos que conhecer Paulinho e não se espante, pois ele também é um boneco. Sim! Um boneco feito de madeira velha e que vivia como uma marionete manuseada por um contador de histórias.

Toc...toc...toc...Lá vem Paulinho agarrado em suas cordas! Incrível como ele vem feliz em suas passadas, num caminhar arrastado de quem ainda não aprendeu a andar direito, por isso se apóia nas cordas que às vezes estão esticadas e outras vezes bambas fazendo com que ele perca o equilíbrio.

A vida parece não passar para ele. O tempo! Esse sim não dá tréguas mesmo ele sendo de madeira, mas isso não faz diferença, pois sua cabeça dura não consegue pensar. Seus olhos são incapazes de enxergar. Se falam a sua volta é indiferente, já que seus ouvidos são de madeira e sem coração não há sentimentos e nem emoção.

Agora que todos conhecem Paulinho, fica fácil entender porque ele é feliz com tão pouco. Aquelas cordas manuseadas são a sua vida, são elas que ditam seu destino, seu caminho e seus movimentos. Depois de tanta felicidade no final da cena as cordas são largadas e sem as mãos do manuseador Paulinho fica imóvel, abandonado, incapaz de movimentos, sem pensar e sem vida.

Ao lado de Paulinho havia uma boneca de pano. Uma daquelas bonecas feita de retalhos cheia de detalhes e mesmo não sendo uma boneca normal, ela não é como ele. Seus movimentos não necessitam de cordas e sim das mãos, pois ela é um lindo fantoche com vestidinho de babados carregando nos cabelos negros uma pequena estrelinha rosa que não brilha. Seus olhos também não enxergam e ela por mais que tente não consegue ouvir. Mesmo sendo linda, sua cabeça de pano é incapaz de pensar e sem coração também desconhece os sentimentos e as emoções.

Eles se conheciam em pequenos momentos, atuando em encontros casuais involuntários, nas cenas em que seus manuseadores lhes davam uma pequena oportunidade de viver dialogando, às vezes até juntinhos, porém nada disso fazia diferença, uma vez que eles não tinham estímulos próprios.
Eles eram tão felizes. Maldito o dia que lhes deram coração!

O coração é onde nascem os sentimentos, que depois são bombeados pelo corpo por meio das artérias causando uma sensação estranha, a qual nos faz arrepiar nos momentos de sentimento e emoção.

Paulinho ganhou um coração que espontaneamente lhe trouxe a emoção de viver, agora a vida tinha cores e as palavras pareciam doces tão saborosos que pareciam insaciáveis. A sua vida encontrou um sentido e ele não queria mais ficar inerte no tempo. Toda aquela felicidade de estar vivo durou muito pouco tempo, pois ele percebera que era um escravo daquelas cordas, elas não o deixavam viver, pois amarravam seus braços e pernas limitando seus movimentos e restringindo seus espaços. Ele não aceitava o que estava acontecendo e sofria, pois havia tanta beleza naquele mundo tão grande e ele estava confinado a sofrer.

Jogado num canto ele parecia não ter vida, porém sua cabeça continuava dura, mas agora pensava e sem entender o que estava acontecendo lamentava:

- Que vida ingrata! Não consigo me mexer, apenas observar e esperar! Paulinho nem imaginava que tudo iria piorar.

A vida segue imparável e incansável fazendo tudo se movimentar à sua volta e foi num desses momentos que ele escutou pela primeira vez o nome da boneca que fez seu corpo arrepiar. Aquele coração que colocaram em seu peito passou a ser dono dos seus pensamentos trazendo uma vontade descontrolada de se aproximar dela, chegar pertinho e matar aquela carência de carinho.

Adoramor era uma boneca linda e em seus movimentos parecia dona de suas vontades. Ela se exibia fazendo poses, abusando nos movimentos dos cabelos e com brilho no olhar, até a estrelinha em seus cabelos também começou a brilhar, porém não demorou muito para ela perceber que também era prisioneira, seus movimentos eram dependentes daquela mão e fora de cena também ficava imóvel.

Os dois jogados sobre a mesa, distantes e apenas trocando olhares incapazes até de piscar, mas condenados a chorar um choro sem lágrimas, mas sentido numa alma aprisionada no momento em que lhe deram corações. Essa angústia, tristeza, ansiedade e incapacidade viraram ódio.

Paulinho decidira não obedecer mais aos movimentos dos cordões. Agora ele agiria de acordo com as suas próprias vontades e se negaria a fazer qualquer movimento do manuseador, a partir desse momento ele faria a sua própria história.

A cena começa e Paulinho desobedece. Ele mantém se parado, se opondo às vontades das cordas, porém suas forças contrarias não eram suficientes e ele resolveu ir além, agarrou se às cordas, subiu pelos cordões até a mão do artista e no momento em que estava subindo no corpo dele, Paulinho conheceu o outro lado da vida, a crueldade humana. Toda aquela rebeldia causou um descontrole e susto do contador de histórias que o lançou longe, jogando-o ao chão e o desmontando em pedaços.

Adoramor observou toda aquela cena trágica, que deixou a sua cabeça de pano confusa, pois presenciara tudo sem entender, para ela aquela cena era parte da história, então por que destruíram Paulinho. O que ele fizera de tão mal?

Pelas vidraças da janela aberta entrava os raios de sol quente iluminando o boneco aos pedaços. Enquanto Paulinho era aquecido pelo sol seus olhos brilhavam e à medida que os raios partiam deixavam na sombra apenas pedaços de madeira sem vida.

A vida era muito complicada para ele e agora Adoramor vê apenas seu corpo dependurado, amarrado pelas mãos e pés como um prisioneiro, porém isso não o faz infeliz, já que seu coração não funciona mais e as cordas são a única esperança de um dia voltar a viver, nem que seja apenas um momentinho ao lado dela.

No olhar eles se encontram, no pensamento também, mas na história que foi escrita para eles, aquela em que eles vivem correndo e brincando o final é sempre o mesmo. Separados e distantes.



ZzipperR
Paulo Ribeiro de Alvarenga

sábado, 6 de agosto de 2011

O mistério do arco-íris




O mistério do arco-íris

Parece uma lenda, mas não é! Mesmo tendo acontecido no meio de uma mata fechada, onde uma gigantesca cachoeira exigiria movimentos da cabeça de seus admiradores para enxergar o início visual da quedas de suas águas.

A mata selvagem se esforçava ao máximo com seus galhos e cipós trançados para evitar a entrada de intrusos, porém um dia suas defesas foram violadas, foi quando pela primeira vez uma garota usando um vestidinho estampado com lindas flores de pétalas gateadas pisou em suas pedras se envolvendo com os segredos ocultos da cachoeira, os quais permanecem guardados junto à história do grande arco-íris.

Num amanhecer quente de uma manhã de verão a grande cachoeira ecoava uma canção eterna de amor lançando suas águas sobre as pedras. Ela tentava jogar suas águas o mais longe possível e nessa tentativa via suas águas se perderem formando uma neblina levada pelos braços do vento, que num sereno cristalizado umidificava as folhagens, saciando a sede e dando vida à mata nativa.

A grande cachoeira percebe a garota de cabelos longos e negros chegando como uma índia selvagem para invadir suas águas. A menina de olhos castanhos caminha pelas pedras até chegar ao pé da cachoeira. Com os braços erguidos para o céu ela fecha os olhos permanecendo imóvel e parada, apenas sentindo seus cabelos serem molhados e a água gostosa escorrendo pela sua pele morena molhando o seu vestido florido que passa a grudar nos relevos do seu corpo.

Toda molhada! Ela grita palavras de amor à natureza agradecendo pela sua esplendorosa beleza. O eco dos seus gritos, por mais alto que seja! Não conseguem ultrapassar os limites da natureza e são consumidos pela mata selvagem, ocultando do mundo os segredos do arco-íris.

A menina poesia olha em sua volta e vê a cachoeira jogar águas sobre a pedra que ela está. Formando um lindo arco-íris à sua volta. Não tendo como se defender ela viu suas cores se misturarem às do arco-íris, que desafiado lança ao mundo o mágico das cores.

As águas são lançadas violentamente sobre as pedras fazendo um barulho ensurdecedor, essa queda furiosa das águas chocando sobre as pedras dão origem a um gigantesco arco-íris. Nele surge o mágico das cores saindo vultuosamente daquela névoa densa e chegando como um banho de cores. Um vulto que penetra e atravessa seu corpo. Sem perceber o que está acontecendo, ela misteriosamente passa a fazer parte do corpo do mágico, inacreditavelmente viva e estampada em sua capa.

As pessoas da pequena cidade logo avistaram aquele grande arco-íris que se formara saindo da mata selvagem. Das suas cores surgiu um personagem extremamente estranho usando uma cartola colorida, nas costas vestia uma grande capa vermelha com uma garota viva estampada nela. À medida que ele caminhava, a garota observava a curiosidade das pessoas. Ela movimentava os olhos e a cabeça observando tudo o que estava acontecendo, porém ao vê-la presa àquela capa vermelha as pessoas ficavam estáticas, com medo e assustadas. Na mão esquerda do mágico havia um pequeno rinoceronte. O qual ele usava como um fantoche para atrair o foco da atenção das pessoas.

Seu caminhar era lento. Atencioso e detalhista e com pequenos movimentos do seu rinoceronte fazia tudo que estava a sua volta criar cores. Mesmo as almas que insistiam em viver na escuridão tinham seus momentos coloridos. Os corações das pessoas batiam mais vermelhos deixando a tonalidade da pele muito mais corada. As plantas abriam suas flores com pétalas coloridas e a beleza se fazia presente fazendo em tão pouco espaço de tempo um mundo feliz.

Os habitantes descrentes daquela cidade imaginavam: O que aquele louco estaria fazendo ali? Ignorantes sobre a misteriosa beleza expressada em cores resolveram confrontá-la e destruí-la. Em cada passada o mágico cultivava amor, atrás dele seguiam apressados os escravos do tempo, cegos e incapazes de enxergar tal beleza e em cada passo dado destruíam a expressão bela da arte plantada pelo mágico.

O mágico apontava seu rinoceronte na direção das pessoas e elas imediatamente se assustavam, porém era uma reação momentânea, pois logo eram seduzidos pelo lado belo da vida num mundo cheio de cores. O mágico das cores com seu rinoceronte à frente desafiava o abandono do mundo, não aceitava o desrespeito com a natureza e insistentemente lançava seu arco-íris ao céu para que as cores não fossem esquecidas.

Da capa a menina poesia observava tudo e se indignava com a atitude destrutiva dos escravos do tempo cegos para a arte e incapazes de ver cores. Eles seguem destruindo toda a magia da poesia e caminham mais rápido que o mágico apagando suas cores.

Os raios solares ardentes sinalizavam que era a hora de partir e salvar o mágico daquela doença sem cura. A menina apaixonada por versos agora também era apaixonada pelas cores e se sentia incapaz, já que tinha apenas palavras como armas.

Aos olhares de todos. As cores foram perdendo a força e clareando, pouco a pouco ficando transparentes. O mágico já não tinha as pernas para andar, logo não tinha as mãos para colorir, junto com o seu rinoceronte e com sua capa vermelha pulsando amor pelas batidas do coração da menina poesia foi levado de volta para o seu ninho, que ficava ao pé da grande cachoeira escondida no meio da mata nativa. Inesperadamente uma grande quantidade de água caiu sobre a menina de cabelos longos, que já não estava mais estampada na capa do mágico e sim sobre um pequeno rochedo liso. Não conseguindo se equilibrar, ela foi lançada ao lago de águas frias.

Ela olhou ao pé da grande cachoeira, onde as águas encontram o solo e havia um arco-íris em circulo parecendo cansado e dormindo, por isso a menina saiu em silêncio, levando o segredo com ela e certa de que não adiantaria mostrar a grande cachoeira ao mundo, pois nem todos teriam capacidade de ver sua beleza, o que faria os cegos da arte não verem sentido de preservação e começarem a destruí-la.

Zzipperr
Paulo Ribeiro de Alvarenga