O tempo, a
ponte e o construtor de pontes.
Às vezes eu fico imaginando o que seria o tempo? O que
é o tempo para você? Depois de muito pensar cheguei à conclusão de que o tempo
seja apenas uma ponte pela qual caminhamos toda vez que sentimos saudades.
Um dia eu conheci um construtor de pontes chamado
Florisvaldo, que me falou assim: Eu nasci em ilhéus e me criei em Itabuna,
quando eu era menino, gostava muito de brincar jogando bolinhas de gude,
empinando pipas e rodando pião.
Foi nesse exato momento que percebi que estávamos em
cima de uma ponte, uma ponte no tempo, por onde corríamos e éramos capazes de
observar instantaneamente e penetrar no passado.
Continuamos correndo por aquela longa ponte no tempo,
as imagens passando e nelas os amigos também estavam lá. Um deles, o Elias chamou
Florisvaldo para pescar e nadar no Rio Salgado, mas não podíamos parar, pois
queríamos saber até onde aquela ponte do tempo poderia nos levar.
Repentinamente ele parou, apontou para uma menina que
estava brincando sozinha e carinhosamente falou: Aquela é a minha irmã
Hilda! Olhei e vi que ela estava
brincando com umas bonecas de pano que a mãe fazia com tanto amor. As bonecas
eram lindas! A boquinha, os olhinhos, os cabelos, deu até vontade de brincar
também, mas tínhamos que continuar, pois aquela ponte no tempo nos levava para
bem mais longe.
Olhávamos para o rio e víamos cobras nadando para
pegar sapos!
Corremos! Corremos e corremos naquela ponte do tempo e
chegamos à Floresta Azul no interior da Bahia. Nem sei que ano era! Só sei que
paramos sobre uma ponte feita de pedra e ferro. Perguntei qual era o nome
daquela ponte e ninguém soube responder, então eu falei: Eu conheço uma das
pessoas que construíram essa ponte e ela deveria se chamar: “A ponte do
Florisvaldo”.
Pensei em chamar o Florisvaldo para irmos ao Barro
preto, mas quando olhei, ele não estava mais do meu lado, havia fugido para
encontrar o pai na roça. Sai para procurar ele e percebi que ali era o final da
ponte, pois Florisvaldo era um menino de Quatro ou cinco anos, que voltou e me
alertou: Cuidado! No final da ponte tem uma cobra! Meu pai matou uma cobra com
rabo de veludo que media uns cinco metros!
Procuramos a cobra no meio da plantação de mandioca,
no meio dos pés de abacaxi e de repente encontramos a cobra em uma toca.
Realmente era uma cobra muito grande, então resolvemos ir embora e foi nesse
exato momento que escutamos um barulho estranho e resolvemos ver o que era:
Vocês podem não acreditar, mas havia um homem rolando na trilha dos animais,
ele rolava como se fosse um animal. Florisvaldo olhou aquela cena e gritou:
Corre que ele vai virar lobisomem!
Voltamos correndo naquela longa ponte do tempo! Nós
corríamos e Florisvaldo crescia! Corria! Corria e o tempo passando até que
chegamos ao presente e hoje Florisvaldo está com oitenta anos.
Saí da ponte do tempo no meio de uma neblina com garoa
fria parecendo são Paulo de 1955! Florisvaldo faz essa mesma viagem todos os
dias, pois todos os nordestinos têm saudades da Bahia.
Uma última olhada na ponte do tempo construída por
Florisvaldo e o avistei com os filhos, os netos e os bisnetos caminhando em
seus pensamentos.
Fui embora pensando: Por mais que o tempo passe! Sempre
vai existir uma ponte entre mim e você!
Paulo
Ribeiro de Alvarenga
Criador de
vaga-lumes
Iluminando pensamentos