quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A Fera e a Bela



A Fera e a Bela


Numa cidade calma do interior, onde todos sabiam tudo o que acontecia, não tinha como não notá-la, pois ela era bela como uma flor perfumada e atraente, por onde ela passava todos olhavam.

Sempre caminhando atenta e apressada, parecia até que estava sendo seguida. Ela não queria ser seguida, pois seu coração batia forte por uma Fera com o coração doce e que chorava muito.

Bela andava rápido. Às vezes até corria e sumia no silêncio da noite, parecia correr em segredo num sonho só dela. Ela corria, corria muito até chegar a um lugar quieto parecendo uma caverna. Parava na porta e respirava fundo chegando a temer, mas entrava e lá encontrava a Fera.

A Fera quando via a Bela chegar ficava quietinho, só olhando e apreciando os seus olhos lindos arregalados de medo, seu sorriso atraente, sua atenção e seu carinho. Ele olhava a Bela charmosa, aquela menina linda e chorava. Depois pedia:

- Bela! Fica perto de mim, não me abandone. Eu posso ser uma Fera, não ser tão lindo quanto você, mas te dou meu carinho.

A Bela olha aquela linda Fera. Teme, mas se aproxima. Pega a sua mão, senta pertinho e fala:

- Sabe Fera! Não é mal ter um amigo fera, quando a gente sabe que ele é Fera.

- Sabe Fera! Como é bom saber que quando eu choro. Você também chora.

- Sabe Fera! Eu fico pensando como a vida é interessante. Eu sou Bela, você é uma Fera e estamos aqui juntinhos, falando, pensando e brigando, mas estamos juntos.

- Sabe Fera! Você é uma bela Fera com suas belezas, olhar feroz, jeito feroz, mas manso, muito mansinho. Eu sei que é!

- Vem Fera! Vamos gritar bem alto. Eu com meu grito belo e você com seu grito feroz, pois a nossa amizade o tempo não vai apagar.

- Vem Fera! Já que não podemos correr na vida, vamos correr no sonho, correr no escuro, correr gostoso, correr em paz.

A Fera olhou a Bela que estava com um olhar feroz, que pegou em sua mão e puxou para fora da caverna. Depois saíram correndo no escuro, ninguém vê, mas eles estão lá, correndo juntos, pensando juntos e confortando um ao outro, mesmo um sendo a Bela linda, charmosa, atraente e carinhosa e o outro sendo a Fera, não duvide de sua beleza, pois tem uma beleza feroz interior, que trás muito amor e carinho para confortar a linda Bela.

Naquela pequena cidade, ninguém mais viu a Bela, mas todos sabem que ela encontrou uma Fera, se encantou com seu carinho e hoje corre no escuro com ele. Se você olhar com atenção, verá passar correndo na escuridão, a Fera e a Bela.


Paulo Ribeiro de Alvarenga
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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O beijo de um estranho



O beijo de um estranho

Eu acordei muito cedo e quando saí para correr estava um nevoeiro muito forte, a neblina era tão intensa que ficava impossível enxergar a dois metros de distância, mesmo assim saí para correr.

O sereno estava tão forte que chegava a assustar, pois trazia uma situação que levava a uma sensação constante de perigo, porém também tinha uma beleza incomum, parecendo estar num sonho oculto, numa privacidade total onde ninguém invadiria com olhares, pensamentos ou julgamentos.

Comecei a fazer aquecimento antes de correr e escutei passos correndo em minha direção, então mantive silêncio para não ser visto. Ao se aproximar, eu percebi que era uma garota correndo na cortina de névoa, que como um vulto se aproximou parando bem próxima a mim.

Silenciosamente me aproximei dela, tapei os seus olhos e percebi ela tremer de medo, então falei:

- Fique tranquila! Eu não farei nada de mal para você, apenas te darei um beijo estranho nesse mundo estranho, um beijo do estranho da neblina.

Ela tremia de medo. Eu me aproximei da sua boca tremula, amedrontada e fria, mesmo assustada eu a beijei rapidamente, depois perguntei:

- Vamos correr menina estranha?

Saí correndo e ela virou rapidamente vendo o meu vulto desaparecendo no meio da neblina forte, depois saiu correndo atrás de mim.

Naquele nevoeiro forte, eu escutava os passos dela correndo ao meu lado, querendo a minha companhia, se aproximando e se sentindo segura ao meu lado.

Nós corríamos cadenciados, mas não conseguíamos ver o outro claramente. Conseguíamos ver apenas um vulto correndo ao lado e escutávamos o som das passadas fortes no asfalto frio. Éramos dois estranhos correndo juntos no meio da névoa úmida, mas querendo o calor humano do outro, mesmo que distante.

O som de cada passada soava como uma palavra em nossos ouvidos e soava como uma canção de fundo em um sonho vivido em meio à neblina, que nos levava como pássaros voando no meio das nuvens.

De repente ouvi mais passos, havia mais uma pessoa correndo no meio do nevoeiro, nosso sonho estava sendo invadido, havia um intruso no caminho e o silêncio calou os passos dela, pois eu ouvia apenas os meus passos. Então parei e resolvi voltar para entender o que acontecera, mesmo não conseguindo enxergar, voltei.

Eu voltei calmamente em passos cautelosos tentando encontrá-la, mas não consegui, talvez ela tenha mudado de direção e caminhado em outro rumo, pois voltei até o ponto de partida e não encontrei mais sinal dela.

Será que tudo isso realmente aconteceu ou foi um sonho no meio da neblina, mas se aconteceu eu fico pensando: No meio da neblina forte ela recebeu um beijo, mas não conseguiu ver o rosto estranho que a beijou, só sabe que gostou, pois foi um beijo estranho como nunca havia beijado, foi um beijo de um estranho que trouxe uma sensação estranha e a partir desse beijo ela também se tornou uma estranha no meio da neblina forte.

Eu continuei correndo no meio da neblina até amanhecer na esperança de encontrá-la. O sol apareceu e levou a neblina embora tirando as minhas esperanças de encontrá-la. Clareou o dia e agora enxergo nitidamente, mas quando penso nela, apenas lembro-me de uma estranha correndo em meio a um nevoeiro muito forte e sinto um gosto estranho na boca.

Sinto o gosto do beijo estranho dela.

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Paulo Ribeiro de Alvarenga

domingo, 2 de outubro de 2011

O cego e a prostituta




O cego e a prostituta


Como é estranho o caminho das pessoas, alguns nascem em berço de ouro, outros têm caminhos coloridos e fáceis de viver, mas ela não, ela era pobre e morava numa cidade pequena do interior, nem sei o nome da cidade, mas o dela eu sei, ela se chamava Esperança.

Esperança era linda desde criança, tinha cabelos encaracolados e lindos olhos azuis, que chamavam a atenção.

A menina era como uma flor desabrochando e cada dia ela ficava mais linda. Mesmo garotinha já chamava a atenção dos homens.

Sem conhecer as armadilhas da vida, um dia Esperança com o seu coração inocente e bom se engraçou por um homem muito mal, que abusou da sua inocência e a levou embora daquela cidade para sempre.

Aquele homem ao qual ela entregara o seu coração de menina nunca cuidou dela, apenas abusava e judiava. Com o passar do tempo os olhos da menina começaram a ficar tristes e o seu coração infantil começou a odiar a vida, sem esperanças ela resolveu ir embora partindo no silêncio da noite, escondida e só com a roupa do corpo.

Seus olhos ficaram tristes e seu coração estava magoado, mesmo assim ela continuava linda, atraente e bela. Desiludida e sem ter como sobreviver, ela resolveu vender seu corpo para o prazer.

Com o passar dos dias Esperança descobriu que não era feliz e que ninguém a deixava feliz. O sorriso de menina a vida levou, sua alma não tinha mais paz, desesperada queria acabar com a própria vida, pois não tinha mais esperanças.

Um dia a vida resolveu iluminar o seu destino, foi no exato momento em que ela percebeu a dificuldade de um cego para atravessar uma avenida. Ela prontamente pegou em seu braço e o guiou até o outro lado. Quando chegou ao outro lado o cego falou:

- Eu sinto o seu coração apertado e descompassado, também sinto tristeza nele, mas ele não é mal é um coração bom e caridoso. Ela contou a sua vida para o cego, que falou:

- Eu moro sozinho, tenho um bom emprego e lhe acolho com todo o respeito, até você encontrar um caminho na sua vida, se não achar pode ficar para sempre.

A vida sorriu para Esperança, os seus olhos não eram mais tristes e o seu coração batia feliz, vivendo feliz ela parecia mais bela.

O homem cego sempre a respeitou e fazia tudo por ela, não deixava faltar nada. Ela vivia num ambiente de amor, harmonioso e carinhoso.

Num momento de fraqueza e de ilusão Esperança tornou a vender seu corpo, não por necessidade, nem ela sabia por quê? Queria dinheiro.

Ela não suportou trair a confiança do cego e contou para ele, que falou:

- Esperança! Um dia você foi os meus olhos para atravessar a avenida, hoje eu sou os seus olhos para atravessar a vida. Eu não posso te abandonar no momento que você mais precisa de mim. Hoje você é cega e quem enxerga sou eu. Por favor! Abra os seus olhos que eu preciso de você comigo, pois hoje você é muito importante para mim e eu te amo muito.

Esperança abriu os olhos para a vida, olhou para o homem cego descobrindo como ele era lindo e nunca exigiu nada dela. A partir daquele momento ela entregou o seu carinho e seu amor para ele.

De repente a vida da menina de cabelos encaracolados iluminou com o brilho do amor deixando tudo mais claro para ela e seguiram juntos de mãos dadas por um caminho feliz.

Enfim Esperança encontrou o caminho do amor e da felicidade.

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Paulo Ribeiro de Alvarenga