domingo, 6 de novembro de 2011

Jogando pedras no lago





Jogando pedras no lago

O cheiro forte de mato molhado de sereno parece um combustível poderoso para o sangue e a mente. O desejo poderoso de brincar que flui de dentro da gente é tão grande que dá inveja dos animais silvestres, essa liberdade de correr, subir nas árvores e nadar nas águas desse pântano maravilhoso.

Sinta o barulho encantador das águas da cachoeira.

Chuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!...Um barulho infinito que parece conversar com a gente. Parece entender a gente, nossos sentimentos, vontades, desejos como se fossemos parte integrante desse mundo encantado e semi-virgem, só não é absolutamente virgem porque penetramos nesse útero de flores e matas selvagens plenamente intocáveis.

A noite fria perde o sentido, o frio se perde no sentido, sem sentido o frio se perde na noite, a mesma noite que faz a gente se perder, se perder no calor do amor. A noite fria se vai e na medida em que se despede o quadro visual assume cores vivas, algumas dominantes e outras passivas.

O espelho d’água faceado sobre o lago reflete o brilho dos raios solares iluminando a imensidão de imagens verdes e suas sombras. Quebrando essa grande vidraça natural, brincamos como crianças jogando pedras em saltos deslizantes. Cada salto alcançado pela pedra nos dá direito a um pedido.

A menina do pântano caminha no meio das águas correntes claras e límpidas, agacha no meio da água e pega uma pedra branca com listras pretas, volta e senta ao meu lado na grande pedra dos desejos com um olhar fixo, penetrante e vitrificado no grande lago. Aquela meditação determinada parecia um pacto entre seus desejos e a grande lagoa da cachoeira, ela parecia estar decifrando e entendendo o linguajar das águas.

A névoa da cachoeira deixou seus cabelos molhados, o sorriso úmido deixou sua boca mais saborosa, no olhar havia um desejo oculto em segredo e o seu vestidinho amarelo colado ao corpo fazia dela uma linda flor do pântano, bela, charmosa, perfumada e atraente, seu desejo era tão profundo que parecia ter brotado e se tornado parte integrante daquele paraíso verde.
Ela lançou a pedra que deu três saltos, sorriu como se estivesse realizada em seus desejos e depois mergulhou nos braços e abraços das águas da lagoa, ao subir à tona parecia uma grande flor enfeitando o verde refletido em vários tons.

Não sei qual foi os desejos dela, mas rapidamente peguei uma pedra na margem da lagoa e lancei naquele espelho verde. A pedra deu apenas um salto, nem pensei e pedi o que eu mais desejava: Nunca mais quero sair desse lugar e me tornar parte desse pântano maravilhoso. Depois mergulhei nas águas do lago me entregando aos braços da natureza.

Mergulhamos e começamos a fuçar nas pedras no fundo do lago, lá encontramos duas pedras em forma de coração, com um leve toque demos vida a elas, pois daquele momento em diante, aquelas pedras passaram a ser o símbolo do nosso amor.

Saímos da água e corremos brincando na mata como animais selvagens procurando morangos silvestres vermelhinhos, madurinhos e gostosos, eles deixam nossos beijos muito mais doces e gostosos.

Não somos mais estranhos naquele lugar, nos tornamos parte e completamos sua beleza natural, a nossa forma de amar se tornou muito mais selvagem, porém muito mais carinhosa e gostosa.


Paulo Ribeiro de Alvarenga
ZzipperR

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A Fera e a Bela



A Fera e a Bela


Numa cidade calma do interior, onde todos sabiam tudo o que acontecia, não tinha como não notá-la, pois ela era bela como uma flor perfumada e atraente, por onde ela passava todos olhavam.

Sempre caminhando atenta e apressada, parecia até que estava sendo seguida. Ela não queria ser seguida, pois seu coração batia forte por uma Fera com o coração doce e que chorava muito.

Bela andava rápido. Às vezes até corria e sumia no silêncio da noite, parecia correr em segredo num sonho só dela. Ela corria, corria muito até chegar a um lugar quieto parecendo uma caverna. Parava na porta e respirava fundo chegando a temer, mas entrava e lá encontrava a Fera.

A Fera quando via a Bela chegar ficava quietinho, só olhando e apreciando os seus olhos lindos arregalados de medo, seu sorriso atraente, sua atenção e seu carinho. Ele olhava a Bela charmosa, aquela menina linda e chorava. Depois pedia:

- Bela! Fica perto de mim, não me abandone. Eu posso ser uma Fera, não ser tão lindo quanto você, mas te dou meu carinho.

A Bela olha aquela linda Fera. Teme, mas se aproxima. Pega a sua mão, senta pertinho e fala:

- Sabe Fera! Não é mal ter um amigo fera, quando a gente sabe que ele é Fera.

- Sabe Fera! Como é bom saber que quando eu choro. Você também chora.

- Sabe Fera! Eu fico pensando como a vida é interessante. Eu sou Bela, você é uma Fera e estamos aqui juntinhos, falando, pensando e brigando, mas estamos juntos.

- Sabe Fera! Você é uma bela Fera com suas belezas, olhar feroz, jeito feroz, mas manso, muito mansinho. Eu sei que é!

- Vem Fera! Vamos gritar bem alto. Eu com meu grito belo e você com seu grito feroz, pois a nossa amizade o tempo não vai apagar.

- Vem Fera! Já que não podemos correr na vida, vamos correr no sonho, correr no escuro, correr gostoso, correr em paz.

A Fera olhou a Bela que estava com um olhar feroz, que pegou em sua mão e puxou para fora da caverna. Depois saíram correndo no escuro, ninguém vê, mas eles estão lá, correndo juntos, pensando juntos e confortando um ao outro, mesmo um sendo a Bela linda, charmosa, atraente e carinhosa e o outro sendo a Fera, não duvide de sua beleza, pois tem uma beleza feroz interior, que trás muito amor e carinho para confortar a linda Bela.

Naquela pequena cidade, ninguém mais viu a Bela, mas todos sabem que ela encontrou uma Fera, se encantou com seu carinho e hoje corre no escuro com ele. Se você olhar com atenção, verá passar correndo na escuridão, a Fera e a Bela.


Paulo Ribeiro de Alvarenga
Zip...Zip...Zip...ZzipperR

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O beijo de um estranho



O beijo de um estranho

Eu acordei muito cedo e quando saí para correr estava um nevoeiro muito forte, a neblina era tão intensa que ficava impossível enxergar a dois metros de distância, mesmo assim saí para correr.

O sereno estava tão forte que chegava a assustar, pois trazia uma situação que levava a uma sensação constante de perigo, porém também tinha uma beleza incomum, parecendo estar num sonho oculto, numa privacidade total onde ninguém invadiria com olhares, pensamentos ou julgamentos.

Comecei a fazer aquecimento antes de correr e escutei passos correndo em minha direção, então mantive silêncio para não ser visto. Ao se aproximar, eu percebi que era uma garota correndo na cortina de névoa, que como um vulto se aproximou parando bem próxima a mim.

Silenciosamente me aproximei dela, tapei os seus olhos e percebi ela tremer de medo, então falei:

- Fique tranquila! Eu não farei nada de mal para você, apenas te darei um beijo estranho nesse mundo estranho, um beijo do estranho da neblina.

Ela tremia de medo. Eu me aproximei da sua boca tremula, amedrontada e fria, mesmo assustada eu a beijei rapidamente, depois perguntei:

- Vamos correr menina estranha?

Saí correndo e ela virou rapidamente vendo o meu vulto desaparecendo no meio da neblina forte, depois saiu correndo atrás de mim.

Naquele nevoeiro forte, eu escutava os passos dela correndo ao meu lado, querendo a minha companhia, se aproximando e se sentindo segura ao meu lado.

Nós corríamos cadenciados, mas não conseguíamos ver o outro claramente. Conseguíamos ver apenas um vulto correndo ao lado e escutávamos o som das passadas fortes no asfalto frio. Éramos dois estranhos correndo juntos no meio da névoa úmida, mas querendo o calor humano do outro, mesmo que distante.

O som de cada passada soava como uma palavra em nossos ouvidos e soava como uma canção de fundo em um sonho vivido em meio à neblina, que nos levava como pássaros voando no meio das nuvens.

De repente ouvi mais passos, havia mais uma pessoa correndo no meio do nevoeiro, nosso sonho estava sendo invadido, havia um intruso no caminho e o silêncio calou os passos dela, pois eu ouvia apenas os meus passos. Então parei e resolvi voltar para entender o que acontecera, mesmo não conseguindo enxergar, voltei.

Eu voltei calmamente em passos cautelosos tentando encontrá-la, mas não consegui, talvez ela tenha mudado de direção e caminhado em outro rumo, pois voltei até o ponto de partida e não encontrei mais sinal dela.

Será que tudo isso realmente aconteceu ou foi um sonho no meio da neblina, mas se aconteceu eu fico pensando: No meio da neblina forte ela recebeu um beijo, mas não conseguiu ver o rosto estranho que a beijou, só sabe que gostou, pois foi um beijo estranho como nunca havia beijado, foi um beijo de um estranho que trouxe uma sensação estranha e a partir desse beijo ela também se tornou uma estranha no meio da neblina forte.

Eu continuei correndo no meio da neblina até amanhecer na esperança de encontrá-la. O sol apareceu e levou a neblina embora tirando as minhas esperanças de encontrá-la. Clareou o dia e agora enxergo nitidamente, mas quando penso nela, apenas lembro-me de uma estranha correndo em meio a um nevoeiro muito forte e sinto um gosto estranho na boca.

Sinto o gosto do beijo estranho dela.

Zip Zip...Zip...ZzipperR
Paulo Ribeiro de Alvarenga

domingo, 2 de outubro de 2011

O cego e a prostituta




O cego e a prostituta


Como é estranho o caminho das pessoas, alguns nascem em berço de ouro, outros têm caminhos coloridos e fáceis de viver, mas ela não, ela era pobre e morava numa cidade pequena do interior, nem sei o nome da cidade, mas o dela eu sei, ela se chamava Esperança.

Esperança era linda desde criança, tinha cabelos encaracolados e lindos olhos azuis, que chamavam a atenção.

A menina era como uma flor desabrochando e cada dia ela ficava mais linda. Mesmo garotinha já chamava a atenção dos homens.

Sem conhecer as armadilhas da vida, um dia Esperança com o seu coração inocente e bom se engraçou por um homem muito mal, que abusou da sua inocência e a levou embora daquela cidade para sempre.

Aquele homem ao qual ela entregara o seu coração de menina nunca cuidou dela, apenas abusava e judiava. Com o passar do tempo os olhos da menina começaram a ficar tristes e o seu coração infantil começou a odiar a vida, sem esperanças ela resolveu ir embora partindo no silêncio da noite, escondida e só com a roupa do corpo.

Seus olhos ficaram tristes e seu coração estava magoado, mesmo assim ela continuava linda, atraente e bela. Desiludida e sem ter como sobreviver, ela resolveu vender seu corpo para o prazer.

Com o passar dos dias Esperança descobriu que não era feliz e que ninguém a deixava feliz. O sorriso de menina a vida levou, sua alma não tinha mais paz, desesperada queria acabar com a própria vida, pois não tinha mais esperanças.

Um dia a vida resolveu iluminar o seu destino, foi no exato momento em que ela percebeu a dificuldade de um cego para atravessar uma avenida. Ela prontamente pegou em seu braço e o guiou até o outro lado. Quando chegou ao outro lado o cego falou:

- Eu sinto o seu coração apertado e descompassado, também sinto tristeza nele, mas ele não é mal é um coração bom e caridoso. Ela contou a sua vida para o cego, que falou:

- Eu moro sozinho, tenho um bom emprego e lhe acolho com todo o respeito, até você encontrar um caminho na sua vida, se não achar pode ficar para sempre.

A vida sorriu para Esperança, os seus olhos não eram mais tristes e o seu coração batia feliz, vivendo feliz ela parecia mais bela.

O homem cego sempre a respeitou e fazia tudo por ela, não deixava faltar nada. Ela vivia num ambiente de amor, harmonioso e carinhoso.

Num momento de fraqueza e de ilusão Esperança tornou a vender seu corpo, não por necessidade, nem ela sabia por quê? Queria dinheiro.

Ela não suportou trair a confiança do cego e contou para ele, que falou:

- Esperança! Um dia você foi os meus olhos para atravessar a avenida, hoje eu sou os seus olhos para atravessar a vida. Eu não posso te abandonar no momento que você mais precisa de mim. Hoje você é cega e quem enxerga sou eu. Por favor! Abra os seus olhos que eu preciso de você comigo, pois hoje você é muito importante para mim e eu te amo muito.

Esperança abriu os olhos para a vida, olhou para o homem cego descobrindo como ele era lindo e nunca exigiu nada dela. A partir daquele momento ela entregou o seu carinho e seu amor para ele.

De repente a vida da menina de cabelos encaracolados iluminou com o brilho do amor deixando tudo mais claro para ela e seguiram juntos de mãos dadas por um caminho feliz.

Enfim Esperança encontrou o caminho do amor e da felicidade.

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Paulo Ribeiro de Alvarenga

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Meu jeito silencioso de pensar


Meu jeito silencioso de pensar

As palavras às vezes nos surpreendem, pois muitas vezes chegam silenciosas trazendo gritos do coração e da alma transmitidos pelo olhar. Palavras transmitidas pelos pensamentos e traduzidas pela intuição. Muitos desses gritos calados estão emudecidos pelas amarras do amor. O amor que parece uma estrada infinita sem começo e sem fim mantendo-nos aprisionados eternamente sem encontrar a saída.

Somos uma escultura em obra permanente, onde são lapidados nossos detalhes e mudado nossas formas, desta maneira nos tornamos obras lindas que nunca ficarão prontas, já que somos detalhados por mãos humanas que nem sempre sabem o que realmente querem.

Nas mãos e no coração dessas pessoas é que esta a força e o poder do amor, que no momento ápice do prazer lança uma chuva de sementes dando origem à vida, que cresce brota e aflora seus desejos se misturando e se espalhando pelo mundo no exato momento em que anjos se amando deixam de ser anjos e passam a ser pecadores.

Não é difícil encontrar um apaixonado perdido no mundo da lua confuso em seus próprios sonhos, uma vez que eles já o envolveram e o consumiram em desejos deixando apenas um ponto no escuro da intuição, onde cada pensamento é uma estrelinha riscando o céu da inspiração, da vontade e da emoção.

As lágrimas ocultas escondidas na noite viraram segredos do coração, fortalecendo o labirinto do orgulho que é o grande inimigo do amor e capaz de confundir as decisões. Será que as dúvidas dessa noite vão passar? Não! Porque a resposta sempre será a mesma: A culpa é toda do outro.

Deve haver um jeito de viver e ser feliz nos extremos da vida, onde somos envenenados por um veneno de cor vermelha que vem de um frasco em constante movimento situado no peito, onde a dose é aplicada com beijos anestesiantes e no momento da paixão louca a picada da serpente, uma picada penetrante na carne que acerta o coração inocente anestesiado por beijos venenosos, que faz o corpo tremer ardendo em febre de loucura e paixão.

Às vezes o amor fica petrificado na alma, por uma decepção amorosa e mal resolvida que não consegue ser diluída pela corrente sanguinea. Como encontrar a cura? Estaria a cura no próprio amor em doses cavalares de carinho e beijos de montão. Enfim! Não sei se somos nós que não entendemos o amor ou é ele que não nos entende.

Ficamos apaixonados um pelo outro, nosso coração pulsa lançando o sangue quente pelo corpo como raios solares ardentes que fazem suar de desejo, queimando a pele, estampando o olhar e o sorriso iluminados por uma doença sem cura chamada amor, mesmo porque ainda não inventaram a cura para a paixão e para aliviar a angústia e a dor só fazendo amor.

Tudo está registrado no DNA dos nossos sonhos, neles estão nossos anseios, vontades e desejos. É sonhando que choramos, brincamos, fazemos mágicas e amamos. Sonhando, brilhamos felizes em mágicas de desejos, onde saboreamos esperanças de que um amor gostoso nunca vai acabar ou alimentamos expectativas de que um grande amor realmente acontecerá.

Entre a pizza e o hambúrguer fico confuso, talvez por estar em posição de uma página toda rabiscada de uma vida difícil de entender, uma vez que as lagartas lançadas ao vento por palavras vindas como borboletas bonitas se apoderam do meu cérebro me deixando sem raciocínio, fazendo minha cabeça oca virar um circulo vazio, uma bola coberta de cabelos que olha o mundo afora e percebe que está perdido, pois um dia se apaixonou.

ZzipperR
Paulo Ribeiro de Alvarenga

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Cata-vento




Cata-vento

Tudo começou em um enorme e velho cata-vento construído no topo de uma montanha, o qual todos diziam ser abandonado. Ninguém sabia dizer se aquele fantasma gigante com suas grandes pás girando era uma maldição e até evitavam fazer perguntas por medo ou receio de sofrer algum mal, fato é que daquele grande cata-vento velho saía todos os dias uma garota com seu vestidinho rosa correndo a brincar e descia até a cidade para vender pequenos cata-ventos coloridos.

Havia alguma habilidade secreta de transformação ágil e repentina naquela colina viva. Uma capacidade incompreensível pela competência humana capaz de uma reflexão contagiante em um simples olhar. Será que a maldição estaria no velho cata-vento ou na mata que o rodeava?

A menina rosa chega à cidade acenando com o suave soprar do vento, trocando pensamentos em silêncio com a sabedoria de um velho cata-vento, girando com seu vestido rosa e respondendo com um leve sopro quente, ardente e inteligente.

Fixo meu olhar e a minha atenção na menina de vestido rosado, mantendo escondida minha curiosidade num sorriso estampado, imaginando qual seria a maldição trazida por ela naqueles olhos dourados, me entregando a ela e me sentindo amarrado, dominado. Lentamente me aproximo dela permanecendo quieto ao seu lado, reparando num pequeno cata-vento que deixa os seus cabelos longos e negros discretamente enfeitados.

Palavras entre nós não existiam, apenas a troca de olhares e a brisa silenciosa do vento lançando gotas geladas por um céu cinzento e no momento em que estava quase escurecendo, o vento aumentou sua intensidade trazendo uma onda de frio que arrepiava, aquela brisa gelada parecia um sinal chamando a menina rosada, que pegou rapidamente os cata-ventos e saiu correndo por uma trilha aparentemente abandonada, atravessando a mata e subindo a montanha.

Mesmo não sabendo seu nome tentei chamá-la, porém não consegui sua atenção e apenas a vi correndo pela trilha que cortava a mata, o contraste do seu vestidinho rosa embelezava a mata como se fosse uma linda flor levada pelo vento num vôo montanha acima.

No alto da montanha escurecida pela queda da noite o grande e velho cata-vento girava lentamente como se estivesse cansado pelo tempo, em cada giro parecia estar chamando sua estrelinha encantada, que no escuro da noite brilhava correndo como uma estrela cadente no meio da mata.

Notem o que aconteceu comigo! O vento frio trazia uma garoa gelada molhando meus cabelos, escorrendo pelo meu rosto e atrapalhando minha visão, aquela maldição se apossou do meu coração, da minha alma, dos meus sentimentos, das minhas vontades e do meu querer me deixando atrapalhado.

Na montanha escura eu via o vulto do grande cata-vento, como se fosse um monstro faminto se alimentando do vento e mantendo no topo de sua cabeça a menina de vestido rosado prisioneira, que num pedido de socorro emitia um foco de luz brilhante em minha direção com um poderoso poder de atração.

A trilha escura parecia assustadora, mesmo assim decidi me arriscar e logo encontrei as pegadas da garota para me orientar, ela deixou cata-ventos de todos os tamanhos decorando a mata que girando me informavam o sentido a seguir.

Cheguei ao pico da montanha e encontrei o grande cata-vento gigante, que frente a frente não parecia tão assustador, mas com o movimento de suas pás ao vento ecoava um som amedrontador assim: Rrruuuuuuááác... Rrruuuuuááác... Rrruuuuuááác... Ao pé do grande cata-vento havia um enorme jardim de pequenos cata-ventos coloridos, todos girando em sintonia.

Toda aquela beleza me deixou fascinado, já que era um espaço surreal muito além do meu imaginário e no momento em que eu apreciava aquela arte tão bela alguém chegou por trás de mim e tapou meus olhos dizendo: - Vamos brincar de esconde-esconde! Conte até vinte depois pode virar.

O toque das suas mãos macias e a sua voz pertinho do meu ouvido me deixou feliz, então resolvi brincar e comecei a contar, depois fui procurá-la. Não havia onde se esconder naquele local, então eu subi no grande cata-vento para olhar do alto, de lá o campo de visão é muito maior e quando eu estava no topo, olhando aquele grande jardim de cata-ventos girando me distrai com uma forte emoção de liberdade, até levei um susto quando meus olhos foram tapados novamente e ela falou: - Você não conseguiu me encontrar, conte até vinte e tente de novo.

Contei e ela sumiu, então resolvi procurá-la naquele imenso jardim de cata-ventos. Eu caminhava e eles pareciam girar para mim, um mais lindo que o outro, tão lindos que pareciam vivos e no momento em que eu me distraí olhando um pequenino cata-vento rosa girando, ela tapou meus olhos novamente, mas desta vez eu não a deixei falar, segurei a sua mão e virei repentinamente fixando meu olhar em seus olhos, nesse erro fatal fui amaldiçoado.

Parecia haver dois cata-ventos girando em seus olhos cor de mel que me atraiam como uma serpente. Eu tentava olhar seus lindos cabelos e era atraído pela hipnose do olhar, tentava olhar sua boca rosada e sedutora, mas era levado novamente para o labirinto do olhar dela, até perder as forças e me entregar numa sensação de estar sendo desligado do mundo.

A menina do cata-vento me levou para longe e nos pensamentos distantes me entregou um cata-vento de fogo que queimou a minha mão atingindo o meu coração, meu sangue começou a ferver deixando minha pele rosada, dos meus olhos surgiam labaredas de paixão e foi beijá-la para meu corpo incendiar queimando no fogo ardente do amor quente. Para aliviar tanto calor só fazendo amor...amar...amar...amar... Depois adormeci.

Amanheceu e com a chegada do sol voltei à vida, mas a menina rosada não estava mais lá, havia apenas o grande jardim de pequenos cata-ventos girando, então resolvi voltar para a cidade e ao chegar encontrei a menina vendendo seus pequenos cata-ventos. Comprei um e ela falou sorrindo: - Agora você me encontrou!

Peguei o cata-vento na mão e sai andando com ele girando, logo percebi que ele queimava em minha mão, era a magia dela invadindo o meu coração e pedindo para eu ficar em seu mundo. O tempo girou, girou, girou e agora eu a ajudo a cuidar daquele lindo e imenso jardim de cata-ventos coloridos. Nós vivemos sonhando no nosso mundo colorido, onde tudo gira feliz.


ZzipperR
Paulo Ribeiro de Alvarenga

domingo, 18 de setembro de 2011

Viver ou sonhar?




Viver ou sonhar?

Nessa caminhada da vida, um dia após o outro, seguimos em passos lentos e nesses passos encontramos tantas contradições da vida, que levam o meu pensamento para vários rumos confrontando passado e futuro.

Lembro da minha infância, época de criança, olhando as meninas brincando de roda e cantando. O tempo passou e ainda continuo vendo-as naquele mesmo lugar como um filme que não se apagou e fica repetindo constantemente na minha mente, como se fosse hoje, mas não é...

Hoje estou no mundo dos adultos e não vejo mais aquelas brincadeiras doces, aquela felicidade delas cantando com pureza rodando, rodando e rodando juntas. Passou...

Crescemos e nos tornamos um bando de imbecis, isso mesmo, pensando ser sempre o mais esperto, se isolando em nossas próprias teorias, se afogando em idéias e nos esquecendo de dar as mãos. O resultado de tudo isso é cair num labirinto e viver na solidão. Hoje, as pessoas não querem mais contatos conversando apenas o indispensável, atitude que leva vizinho a não conhecer vizinho.
Se as pessoas não conhecem nem a si mesmas, como poderão conhecer seus vizinhos. Se elas não se conhecem hoje, como vão se lembrar do passado. Se lembram do passado, é como se não fossem elas mesmas, é como se fossem outras pessoas que não fizeram parte da vida delas.

Dizem que viver é melhor que sonhar. O que seria viver? Como poderíamos realmente ter a certeza de que estamos vivos?

Penso que sonhamos a vida que queremos viver e vivemos a vida que não sonhamos. A vida está sempre em desacordo.

Não sei se sou eu que vivo assim, procurando o que não acho, mas como eu poderia achar, se não sei o que estou procurando. A felicidade! Cadê ela? Quero pegá-la, senti-la, nas mãos, no coração e na alma.

Estou falando, mas não sei se estou desabafando, pois esse desacordo pode ser um problema local, individual, coisa pessoal que atinge apenas um personagem, esse que está expondo um flash do seu filme...

Talvez você nem passe por isso, pois tem uma vida dominada, vivendo todos os seus sonhos. Eu fico feliz de saber que você é uma pessoa realizada, você com certeza tem uma vida perfeita, pois consegue viver todos os seus sonhos. Meus parabéns!

Mas eu não! Eu sou um sonhador e vivo em desacordo, eu vivo na contramão dos meus sonhos, assim vivo vagando num outro mundo, tentando viver a realidade do meu sonho. O sonho é difícil de explicar, mas sei que existe.

Tempo, tempo, tempo, tempo, seu ditador implacável, uma pedra muito pesada no meu caminho, que não me deixa sonhar, quando estou sonhando me deixa sem tempo. Por que faz isso comigo? Eu quero sonhar, mas não tenho tempo.

Agora que estou com um pouco de tempo, peço licença, porque eu quero sonhar e tentar ver o reflexo dos seus olhos e o brilho do seu sorriso no meu sonho. Vou deixar vocês, pois eu tenho que deixar de viver e agora estou com muita vontade de sonhar.

Uma vez um grande pensador chamado ZzipperR falou: “A vida é um sonho e quando acordamos, já estamos do outro lado” Palavras de um louco que não sabe o que fala.


Zip..Zip...Zip...ZzipperR.
Paulo Ribeiro de Alvarenga

domingo, 4 de setembro de 2011

A vitrine da vida




A vitrine da vida


Olhando para uma vitrine viva em uma loja, fiquei um bom tempo admirando e observando aquele manequim humano me olhando. No primeiro momento, ao chegar, eu tinha certeza de que eu era o observador, mas à medida que o tempo passava a dúvida começava a tomar conta de mim, a maneira como eu era observado me colocava como se eu estivesse na vitrine, exposto para todos a todo o momento.

Em um momento de meditação, conclui que na vida tudo é uma exposição, com isso tudo adquire o seu valor em relação ao espaço em que está situado. Um objeto pode não valer nada ou valer muito, dependendo de onde está ou quem está em sua volta, expondo-o ou observando-o.

Assim somos nós, nossos valores estão totalmente vinculados ao que o outro valoriza, não só os bens materiais, mas também valores pessoais ou sociais. Os olhos dos outros é que determinam nossa inclusão ou não em certa faixa social, ou seja, o que eles vêm é o que somos. Assim, para uns somos caros, para outros somos baratos, bonitos ou feios e por fim acabamos entre os incluídos ou excluídos da sociedade.

Pense como se as pessoas que estão à sua volta estivessem te olhando, você em meio a muitos olhos, todos te observando com toda liberdade de pensar e imaginar o seu papel naquele espaço natural da vida. Todos fazemos o mesmo papel. Funciona como se todos carregassem um espelho e por eles enxergássemos nossos detalhes, não só externos como também internos, é a realidade expondo o que somos, se somos bonitos, fortes ou fracos, pré-valorizados e auto valorizados. Este é um momento muito delicado da vida, nem todos suportam a pressão da sociedade, aqueles que não suportam são descartados e eliminados pela marginalização social.
Olhe para este espelho. Você reconhece este rosto?

É melhor você conhecer, se não conhecer, com certeza desconhece seu papel no mundo. E olha que este mundo tem muitos reflexos que podem brilhar ou ofuscar, quanto melhor você enxergar seus reflexos, maiores serão suas oportunidades de reconhecer seus valores e encontrar a felicidade.
Às vezes, quando estamos ali, no meio de todos, sentimos uma coisa estranha, um vazio inexplicável, pois, mesmo rodeado de espelhos com tanta gente em nossa volta, vemos que cada espelho reflete uma imagem diferente. Em alguns a imagem brilha e em outros ela fica apagada, com pouca imagem e pouco reflexo, uma pessoa sem imagem está deixando de existir, é um personagem num espaço inútil, vazio.

A iluminação muda a todo o momento. No cenário tudo muda de posição naturalmente e nós que também fazemos parte desta vitrine natural, mostramos nosso trabalho olhando, falando, pensando, agindo e até dormindo num espaço onde ensinamos e aprendemos com tudo que nos circula. A vitrine é composta de detalhes e nós fazemos parte desta composição, o que torna impossível enxergarmos o que somos, sem o reflexo do julgamento dos olhos alheios. Somos o que eles enxergam e valorizam, por isso damos tanto valor ao julgamento alheio e no julgamento exigente da vida concluímos detalhes que jamais seriamos capazes de concluirmos sozinhos, eles é que decidem se somos jovens ou se já estamos velhos.

Não quero mais ser vitrine da vida! Mesmo assim continuo sendo, onde estiver, mesmo estando sozinho, pois sempre estarei sendo avaliado por alguém. Já que não tem como sair desta vitrine o melhor que temos a fazer é aproveitá-la da melhor maneira possível, aceitando nossos defeitos e procurando refletir com muito brilho nossas virtudes, para que todos que nos rodeiam queiram sempre olhar para nossa vitrine e até fazer parte dela, no mesmo cenário natural da vida.
Como é a sua vitrine neste momento? Como é o cenário? Como você está exposto? Agora se prepare. Que você vai começar a ser avaliado.


Zip...Zip...Zip...ZzipperR.
Paulo Ribeiro de Alvarenga

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O ponto vácuo da mente



O ponto vácuo da mente

Há momentos em que fleches de vácuo
Atingem nossas mentes;
Fazendo delas canteiros para espalhar sementes
Do bem ou do mal nos amarrando com correntes.

Devemos administrar bem esse espaço
Pois ele não pode dominar nosso presente;
A mente preguiçosa pode ser atacada
Desenvolvendo monstros perigosos do inconsciente.

O vácuo crescente nos encaixota
Lacra, amarra e aperta como uma serpente;
O que fazer?
Se nossa capacidade de decidir está ausente.

O vácuo invasor das mentes vazias
À medida que cresce deixa a reflexão impotente;
Tanto vácuo deixa a mente deficiente
E a sociedade é a culpada, pois deixou a educação ausente.

Meu Deus! O que aconteceu com a minha mente
Será que ela entrou em pane e está dormente;
Encurralado, imponente e impotente
Tornei-me uma pessoa carente.

Zzipperr
Paulo Ribeiro de Alvarenga

sábado, 20 de agosto de 2011

Paulinho e a boneca de pano




Paulinho e a boneca de pano

Fica aqui uma pergunta jogada ao ar:

Existe um momento na vida mais lindo do que a infância?

É fácil responder essa pergunta, basta olhar a felicidade de uma criança com tão pequenas coisas e é dessa beleza inocente com pureza de viver que nasceu a lenda de Paulinho e a boneca de pano, mas primeiro temos que conhecer Paulinho e não se espante, pois ele também é um boneco. Sim! Um boneco feito de madeira velha e que vivia como uma marionete manuseada por um contador de histórias.

Toc...toc...toc...Lá vem Paulinho agarrado em suas cordas! Incrível como ele vem feliz em suas passadas, num caminhar arrastado de quem ainda não aprendeu a andar direito, por isso se apóia nas cordas que às vezes estão esticadas e outras vezes bambas fazendo com que ele perca o equilíbrio.

A vida parece não passar para ele. O tempo! Esse sim não dá tréguas mesmo ele sendo de madeira, mas isso não faz diferença, pois sua cabeça dura não consegue pensar. Seus olhos são incapazes de enxergar. Se falam a sua volta é indiferente, já que seus ouvidos são de madeira e sem coração não há sentimentos e nem emoção.

Agora que todos conhecem Paulinho, fica fácil entender porque ele é feliz com tão pouco. Aquelas cordas manuseadas são a sua vida, são elas que ditam seu destino, seu caminho e seus movimentos. Depois de tanta felicidade no final da cena as cordas são largadas e sem as mãos do manuseador Paulinho fica imóvel, abandonado, incapaz de movimentos, sem pensar e sem vida.

Ao lado de Paulinho havia uma boneca de pano. Uma daquelas bonecas feita de retalhos cheia de detalhes e mesmo não sendo uma boneca normal, ela não é como ele. Seus movimentos não necessitam de cordas e sim das mãos, pois ela é um lindo fantoche com vestidinho de babados carregando nos cabelos negros uma pequena estrelinha rosa que não brilha. Seus olhos também não enxergam e ela por mais que tente não consegue ouvir. Mesmo sendo linda, sua cabeça de pano é incapaz de pensar e sem coração também desconhece os sentimentos e as emoções.

Eles se conheciam em pequenos momentos, atuando em encontros casuais involuntários, nas cenas em que seus manuseadores lhes davam uma pequena oportunidade de viver dialogando, às vezes até juntinhos, porém nada disso fazia diferença, uma vez que eles não tinham estímulos próprios.
Eles eram tão felizes. Maldito o dia que lhes deram coração!

O coração é onde nascem os sentimentos, que depois são bombeados pelo corpo por meio das artérias causando uma sensação estranha, a qual nos faz arrepiar nos momentos de sentimento e emoção.

Paulinho ganhou um coração que espontaneamente lhe trouxe a emoção de viver, agora a vida tinha cores e as palavras pareciam doces tão saborosos que pareciam insaciáveis. A sua vida encontrou um sentido e ele não queria mais ficar inerte no tempo. Toda aquela felicidade de estar vivo durou muito pouco tempo, pois ele percebera que era um escravo daquelas cordas, elas não o deixavam viver, pois amarravam seus braços e pernas limitando seus movimentos e restringindo seus espaços. Ele não aceitava o que estava acontecendo e sofria, pois havia tanta beleza naquele mundo tão grande e ele estava confinado a sofrer.

Jogado num canto ele parecia não ter vida, porém sua cabeça continuava dura, mas agora pensava e sem entender o que estava acontecendo lamentava:

- Que vida ingrata! Não consigo me mexer, apenas observar e esperar! Paulinho nem imaginava que tudo iria piorar.

A vida segue imparável e incansável fazendo tudo se movimentar à sua volta e foi num desses momentos que ele escutou pela primeira vez o nome da boneca que fez seu corpo arrepiar. Aquele coração que colocaram em seu peito passou a ser dono dos seus pensamentos trazendo uma vontade descontrolada de se aproximar dela, chegar pertinho e matar aquela carência de carinho.

Adoramor era uma boneca linda e em seus movimentos parecia dona de suas vontades. Ela se exibia fazendo poses, abusando nos movimentos dos cabelos e com brilho no olhar, até a estrelinha em seus cabelos também começou a brilhar, porém não demorou muito para ela perceber que também era prisioneira, seus movimentos eram dependentes daquela mão e fora de cena também ficava imóvel.

Os dois jogados sobre a mesa, distantes e apenas trocando olhares incapazes até de piscar, mas condenados a chorar um choro sem lágrimas, mas sentido numa alma aprisionada no momento em que lhe deram corações. Essa angústia, tristeza, ansiedade e incapacidade viraram ódio.

Paulinho decidira não obedecer mais aos movimentos dos cordões. Agora ele agiria de acordo com as suas próprias vontades e se negaria a fazer qualquer movimento do manuseador, a partir desse momento ele faria a sua própria história.

A cena começa e Paulinho desobedece. Ele mantém se parado, se opondo às vontades das cordas, porém suas forças contrarias não eram suficientes e ele resolveu ir além, agarrou se às cordas, subiu pelos cordões até a mão do artista e no momento em que estava subindo no corpo dele, Paulinho conheceu o outro lado da vida, a crueldade humana. Toda aquela rebeldia causou um descontrole e susto do contador de histórias que o lançou longe, jogando-o ao chão e o desmontando em pedaços.

Adoramor observou toda aquela cena trágica, que deixou a sua cabeça de pano confusa, pois presenciara tudo sem entender, para ela aquela cena era parte da história, então por que destruíram Paulinho. O que ele fizera de tão mal?

Pelas vidraças da janela aberta entrava os raios de sol quente iluminando o boneco aos pedaços. Enquanto Paulinho era aquecido pelo sol seus olhos brilhavam e à medida que os raios partiam deixavam na sombra apenas pedaços de madeira sem vida.

A vida era muito complicada para ele e agora Adoramor vê apenas seu corpo dependurado, amarrado pelas mãos e pés como um prisioneiro, porém isso não o faz infeliz, já que seu coração não funciona mais e as cordas são a única esperança de um dia voltar a viver, nem que seja apenas um momentinho ao lado dela.

No olhar eles se encontram, no pensamento também, mas na história que foi escrita para eles, aquela em que eles vivem correndo e brincando o final é sempre o mesmo. Separados e distantes.



ZzipperR
Paulo Ribeiro de Alvarenga

sábado, 6 de agosto de 2011

O mistério do arco-íris




O mistério do arco-íris

Parece uma lenda, mas não é! Mesmo tendo acontecido no meio de uma mata fechada, onde uma gigantesca cachoeira exigiria movimentos da cabeça de seus admiradores para enxergar o início visual da quedas de suas águas.

A mata selvagem se esforçava ao máximo com seus galhos e cipós trançados para evitar a entrada de intrusos, porém um dia suas defesas foram violadas, foi quando pela primeira vez uma garota usando um vestidinho estampado com lindas flores de pétalas gateadas pisou em suas pedras se envolvendo com os segredos ocultos da cachoeira, os quais permanecem guardados junto à história do grande arco-íris.

Num amanhecer quente de uma manhã de verão a grande cachoeira ecoava uma canção eterna de amor lançando suas águas sobre as pedras. Ela tentava jogar suas águas o mais longe possível e nessa tentativa via suas águas se perderem formando uma neblina levada pelos braços do vento, que num sereno cristalizado umidificava as folhagens, saciando a sede e dando vida à mata nativa.

A grande cachoeira percebe a garota de cabelos longos e negros chegando como uma índia selvagem para invadir suas águas. A menina de olhos castanhos caminha pelas pedras até chegar ao pé da cachoeira. Com os braços erguidos para o céu ela fecha os olhos permanecendo imóvel e parada, apenas sentindo seus cabelos serem molhados e a água gostosa escorrendo pela sua pele morena molhando o seu vestido florido que passa a grudar nos relevos do seu corpo.

Toda molhada! Ela grita palavras de amor à natureza agradecendo pela sua esplendorosa beleza. O eco dos seus gritos, por mais alto que seja! Não conseguem ultrapassar os limites da natureza e são consumidos pela mata selvagem, ocultando do mundo os segredos do arco-íris.

A menina poesia olha em sua volta e vê a cachoeira jogar águas sobre a pedra que ela está. Formando um lindo arco-íris à sua volta. Não tendo como se defender ela viu suas cores se misturarem às do arco-íris, que desafiado lança ao mundo o mágico das cores.

As águas são lançadas violentamente sobre as pedras fazendo um barulho ensurdecedor, essa queda furiosa das águas chocando sobre as pedras dão origem a um gigantesco arco-íris. Nele surge o mágico das cores saindo vultuosamente daquela névoa densa e chegando como um banho de cores. Um vulto que penetra e atravessa seu corpo. Sem perceber o que está acontecendo, ela misteriosamente passa a fazer parte do corpo do mágico, inacreditavelmente viva e estampada em sua capa.

As pessoas da pequena cidade logo avistaram aquele grande arco-íris que se formara saindo da mata selvagem. Das suas cores surgiu um personagem extremamente estranho usando uma cartola colorida, nas costas vestia uma grande capa vermelha com uma garota viva estampada nela. À medida que ele caminhava, a garota observava a curiosidade das pessoas. Ela movimentava os olhos e a cabeça observando tudo o que estava acontecendo, porém ao vê-la presa àquela capa vermelha as pessoas ficavam estáticas, com medo e assustadas. Na mão esquerda do mágico havia um pequeno rinoceronte. O qual ele usava como um fantoche para atrair o foco da atenção das pessoas.

Seu caminhar era lento. Atencioso e detalhista e com pequenos movimentos do seu rinoceronte fazia tudo que estava a sua volta criar cores. Mesmo as almas que insistiam em viver na escuridão tinham seus momentos coloridos. Os corações das pessoas batiam mais vermelhos deixando a tonalidade da pele muito mais corada. As plantas abriam suas flores com pétalas coloridas e a beleza se fazia presente fazendo em tão pouco espaço de tempo um mundo feliz.

Os habitantes descrentes daquela cidade imaginavam: O que aquele louco estaria fazendo ali? Ignorantes sobre a misteriosa beleza expressada em cores resolveram confrontá-la e destruí-la. Em cada passada o mágico cultivava amor, atrás dele seguiam apressados os escravos do tempo, cegos e incapazes de enxergar tal beleza e em cada passo dado destruíam a expressão bela da arte plantada pelo mágico.

O mágico apontava seu rinoceronte na direção das pessoas e elas imediatamente se assustavam, porém era uma reação momentânea, pois logo eram seduzidos pelo lado belo da vida num mundo cheio de cores. O mágico das cores com seu rinoceronte à frente desafiava o abandono do mundo, não aceitava o desrespeito com a natureza e insistentemente lançava seu arco-íris ao céu para que as cores não fossem esquecidas.

Da capa a menina poesia observava tudo e se indignava com a atitude destrutiva dos escravos do tempo cegos para a arte e incapazes de ver cores. Eles seguem destruindo toda a magia da poesia e caminham mais rápido que o mágico apagando suas cores.

Os raios solares ardentes sinalizavam que era a hora de partir e salvar o mágico daquela doença sem cura. A menina apaixonada por versos agora também era apaixonada pelas cores e se sentia incapaz, já que tinha apenas palavras como armas.

Aos olhares de todos. As cores foram perdendo a força e clareando, pouco a pouco ficando transparentes. O mágico já não tinha as pernas para andar, logo não tinha as mãos para colorir, junto com o seu rinoceronte e com sua capa vermelha pulsando amor pelas batidas do coração da menina poesia foi levado de volta para o seu ninho, que ficava ao pé da grande cachoeira escondida no meio da mata nativa. Inesperadamente uma grande quantidade de água caiu sobre a menina de cabelos longos, que já não estava mais estampada na capa do mágico e sim sobre um pequeno rochedo liso. Não conseguindo se equilibrar, ela foi lançada ao lago de águas frias.

Ela olhou ao pé da grande cachoeira, onde as águas encontram o solo e havia um arco-íris em circulo parecendo cansado e dormindo, por isso a menina saiu em silêncio, levando o segredo com ela e certa de que não adiantaria mostrar a grande cachoeira ao mundo, pois nem todos teriam capacidade de ver sua beleza, o que faria os cegos da arte não verem sentido de preservação e começarem a destruí-la.

Zzipperr
Paulo Ribeiro de Alvarenga

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Um cheiro gostoso de flor



Um cheiro gostoso de flor

O dia nublado clareou e lá está ela, uma rosa solitária que adora tomar banho de chuva abrindo suas pétalas em um jardim rodeado de margaridas.

A linda rosa vermelha poderia se sentir melhor que as outras moradoras daquele jardim, porém seu verdadeiro sentimento é de amor e por estar apaixonada sua cor é vermelha. Às vezes ela pensa que seria melhor ser uma rosa amarela misturando-se às belas margaridas já douradas com suas pétalas queimadas pelos raios ardentes do sol, tanto que ela apenas queria viver feliz no meio daquelas lindas margaridas espalhadas pelo canteiro e se espalhar também sem ser notada formando uma sociedade ocasionalmente estabelecida pelas mãos da vida.

As passadas medrosas nos caminhos secretos do subconsciente, ocasionalmente nos encorajam a sair do nosso modo cotidiano e aprisionado de viver rompendo o labirinto dos ideais e naufragando profundamente no desejo da felicidade.

Toda vez que abro a porta do sonho sou capaz de enxergar a liberdade e saborear o gosto doce de ser feliz, nesse desejo é que invado seu jardim e partilho o meu sonho com o seu. Atravesso a porta e sinto o vento tocar o meu rosto como se fosse as suas mãos, agitando os meus cabelos e me convidando a correr na fantasia em devaneios absolutamente distante do real.

O grande jardim é onde sempre começamos a sonhar. Coloco meus olhos no sonho e já a avisto de vermelho no meio daquela onda de flores ao vento, envolvida na cor dominante do amor.

Colho a rosa vermelha que está no meio do jardim e corro para você, nela está o poder do nosso desejo, uma rosa para a minha estrela vermelha que faz de mim seu grande caçador, pois brilhando em meu sonho ela me ensinou a sonhar, brincar, voar e amar, fazendo meus olhos brilharem.

Sou um escravo da arte, um eterno apaixonado pelas formas do corpo, dos relevos dos seios, da cor dos olhos, da felicidade no sorriso e da beleza proporcionada pela alegria que vem de dentro quando se está amando.

O canto da minha sonhadora me convida a sonhar. Um canto de uma menina que vem de longe, um canto misterioso e gostoso de amor que vem me buscar como o canto de uma sereia das flores, navegante de um lindo jardim de sonhos onde encontro ela a me esperar.

- Bom dia menina linda! Eu trouxe um morango vermelhinho para você saborear. Sinta o prazer dessa fruta do amor que traz o formato do coração, ela é capaz de alegrar o seu dia e deixar esse seu cheirinho de flor muito mais gostoso.

- Você sempre me traz flores e hoje trouxe um morango tão lindo e saboroso quanto o nosso sonho. Quando não te encontro sou devorada pela saudade, fico escrava e presa na solidão que só acalma caminhando no meio desse jardim de flores, apenas consolada pela toada de uma música doce. Eu adoro ganhar flores!

Entro no seu sonho e você está linda com os olhos pequenininhos de sono. Será que você ficará feliz com esse morango tão pequenininho de presente? E se você não estiver pensando em mim!

Imediatamente ouço seu grito me chamando na estrada, correndo em minha direção, me agarrando, caminhando, namorando, voando, voando, voando.

A menina dos meus olhos refletida no meu olhar, no meu pensar e que não me deixa raciocinar, pois não tem medo de nada e permanece sentada na mesma estrada sabendo que eu vou voltar. Ela é a menina de olhos castanhos do sonho de um contador de histórias. Ele sabe que ela estará sempre esperando no mesmo lugar, por isso traz uma flor amarela para enfeitar o cabelo dela.

Chega um momento em que tudo fica quieto, silencioso e sem ação e ela fala:

- Você não entende! Eu sou uma menina flor, bela, silenciosa, linda, atraente e carrego comigo o dom do amor. Estou sempre te esperando no nosso caminho mágico com um cheiro gostoso de flor, enquanto você não vem escrevo poesias de amor.

As águas selvagens de um rio invadem o nosso mundo dizendo que é hora de ir, logo a frente há uma bifurcação que não entende o nosso coração, agita o nosso sonho e não nos deixa sonhar. Por favor, não me acorde! Volte para o meu sonho e deixe-me sentir seu cheiro gostoso de flor novamente.


ZziperR
Paulo Ribeiro de Alvarenga

domingo, 17 de julho de 2011

Uma caixinha de surpresas



Uma caixinha de surpresas

O estresse dessa rotina cotidiana nos deixa cansado, por isso no fim de semana resolvi passear sem destino pelas ruas da cidade, dirigindo em velocidade cadenciada, quero ser um observador dos detalhes arquitetônicos da cidade.

Tantas árvores decoram a avenida e perto do aeroporto um grande avião parecia que ia cair sobre mim, mas continuei mesmo assim. Contornei uma grande ponte toda raiada que a Globo insiste em mostrar e quando parei no farol, que o passeio realmente começou a me interessar.

Uma grande tenda foi montada para chamar a atenção e ninguém se interessava em olhar, porém o farol ficou vermelho e eu tive que parar. Várias pessoas com caixinhas estranhas na mão caminhavam até os carros e pareciam fazer mágicas para as pessoas, porém distante eu não conseguia entender.

Entre eles havia uma garotinha com uma caixinha marrom na mão que correu até mim, fiquei curioso para saber que mágica ela ia fazer, então entreguei toda a minha atenção a ela que falou:

- Você quer ver a minha caixinha de surpresa?

- Quero!

- Tome! Pega ela e abre.

Abri a caixinha e não tinha nada, mas quando retornei meu olhar para a garotinha, ela tinha se transformado e estava com o rosto todo maquiado e pintado instantaneamente como uma palhacinha.

- Como você fez isto?

- É segredo! Quer uma surpresa muito maior?

- Quero!

- Então me devolve a caixinha!

Ela virou de costas para mim, abriu a caixinha, assoprou dentro dela, depois fechou e entregou outra vez em minha mão. Abri novamente a caixinha e não tinha nada dentro. Olhei novamente para a garotinha e nada tinha mudado, pois ela continuava com o rostinho pintado de palhacinha, então falei:

- Sua mágica falhou! Nada aconteceu!

- Você tem certeza! Então olha o seu rosto.

Eu olhei no espelho do carro e não acreditei no que vi. Meu rosto estava pintado com uma maquiagem que expressava a figura de um palhaço feliz.

Você fez as suas surpresas. Agora é a minha vez! Estacionei o carro. Tirei um sapo manuseado por cordões e participei com ela naquela festa da arte.
Ela corria no meio dos carros na frente, enquanto eu a seguia com o meu sapo pulando e fazendo Ploc! Ploc! Sempre atrás dela, até a festa acabar. Ela fazia mágicas com sua caixinha enquanto meu sapo pulava na cabeça dela. Ela ria e ele pulava nos ombros dela, depois pulava no teto do carro e via sua impressionante habilidade de realizar mágica.

A noite chegou e toda aquela brincadeira maravilhosa da arte acabou. Até hoje não sei se a mágica estava na caixinha ou nas mãos daquela menininha, só sei que a festa terminou. A grande tenda foi desmontada e todos os artistas se despediram e foram embora levando na bagagem seus segredos.

Na hora da despedida resolvi lhe fazer uma última surpresa. Ajoelhei na frente dela para ficar da mesma altura porque ela era pequenininha e falei:

- O sapo chorão está chorando porque ele quer ir embora com você. Leve ele para você caixinha de surpresa! Ela agarrou o sapo com tanto amor, abraçou e apertou, depois falou:

- Eu também vou te fazer uma última surpresa! Ela virou de costas para mim, assoprou na caixinha, depois fechou, virou e me entregou.

Imediatamente eu abri a caixinha e nada aconteceu. Tudo estava praticamente igual, nada mudou. Ela falou: Adeus Ziii! Depois foi embora correndo com o sapo chorão nos braços para o carro dos pais, me deixando com a caixinha mágica de surpresa na mão.

Fiquei surpreso, pois não aconteceu nada e eu fui o último a sair do local. Porém quando eu entrei no meu carro e olhei no espelho tive outra grande surpresa, pois meu rosto voltara ao normal. A pintura de palhaço havia sumido, dando a impressão de que eu estava mergulhado em um sonho e nada havia acontecido, porém eu continuava com a caixinha de surpresas na minha mão.

Eu nunca consegui fazer uma mágica com aquela caixinha, mas a guardo com carinho, pois com certeza tem alguma surpresa escondida dentro dela.

Fui embora seguindo por aquela grande ponte iluminada e pensando: Que surpresa feliz!

ZzipperR
Paulo Ribeiro de Alvarenga

sábado, 9 de julho de 2011

Um palhaço com olhos de vidro e o gato preto





Um palhaço com olhos de vidro e o gato preto


Na madrugada gelada, as gotas frias do sereno trazidas pelo vento batem no rosto daquele andarilho solitário que procura um abrigo para dormir. Ele já caminha com dificuldade por sentir dores nos pés congelados e o vento cortando seu corpo causa calafrios momentâneos que o fazem tremer. As gotas geladas misturadas ao vento frio parecem queimar a pele daquele caminhante solitário da rua deserta.

O asfalto molhado começa a ficar perigoso, então ele caminha com cuidado para não escorregar, pois há poucas luzes acesas, isso deixa a visão turva e enganosa.

De repente um gato preto cruza o seu caminho e ele para por ser extremamente supersticioso. Agora ele ficou com receio de continuar a caminhada por essa rua, pois pode trazer azar e se tornar perigoso, então resolveu mudar o caminho. Entrou em outra rua, a qual também estava totalmente deserta e continuou caminhando com dificuldades.

A solidão da noite fazia qualquer movimento parecer assustador e no meio da neblina misturada ao sereno ele avistou uma pessoa sentada na calçada. Foi um momento que o deixou confuso entre desconfiança e medo, porém não tinha como voltar atrás, então ele continuou caminhando com o olhar atento aos movimentos da pessoa que estava sentada na calçada.
À medida que ele ia se aproximando, percebia que havia alguma coisa estranha naquela pessoa, que agora parecia ser uma criança. O homem parou, olhou com mais atenção e percebeu que a pessoa também olhava para ele, mas parecia um olhar vitrificado de alguém que não tinha vida.

Aquele olhar refletindo a iluminação da rua parecia ser de vidro, esse brilho fazia com que a curiosidade tomasse o lugar do medo, então ele resolveu chegar mais perto. Agora não parece mais uma pessoa e sim um boneco que alguém deve ter abandonado na rua.

O andarilho se aproximava olhando para o boneco enquanto o boneco também olhava para ele. Mais perto e ele percebeu que o boneco era um palhaço de olhos de vidro, porém ao chegar bem próximo um movimento brusco no corpo do palhaço lhe deu o maior susto, um gato preto saltou do colo do boneco e saiu correndo.

Ao ver o gato pular e correr, o homem supersticioso ficou amedrontado e hesitou em continuar, não sabia o que fazer e caminhou em volta do boneco que parecia acompanhá-lo com o olhar.
Confuso com tudo que estava acontecendo, a razão superou o medo e ele se aproximou do palhaço, pegando-o em seus braços, mesmo sendo um boneco com olhos de vidro, seu olhar parecia real e delator de algumas vontades quase impossíveis.

Ele olhava nos olhos de vidro do palhaço e o palhaço olhava nos seus olhos cansados, depois colocou o boneco embaixo do braço e continuou caminhando vagarosamente com os dedos dos pés doendo e duros de frio. Foi nesse momento que ele escutou:

- Você está me machucando!

O andarilho olhou para trás e não viu ninguém, então imaginou ter ouvido coisas. Balançou a cabeça como se estivesse ouvindo coisas sem sentido e continuou caminhando, porém ouviu novamente:

- Você está me machucando!

O homem olhou para o boneco e falou para si mesmo já que não havia mais ninguém naquele local: Preciso descansar. Já estou ouvindo coisas!

E o boneco respondeu:

- Precisa mesmo. Você está um lixo.

O homem olhou atentamente para o boneco, bem próximo daquele palhaço de olhos de vidro e perguntou:

- Quem é você? Quem o abandonou naquela calçada?

- Eu sou a encruzilhada da vida. Sou do mundo de vidro e necessito de um coração ao lado para poder viver e quem me abandonou naquele lugar foi uma pessoa que perdeu o calor do coração.

Ambos admiravam o rosto um do outro. O homem com um olhar cansado observava cada detalhe da pintura de palhaço feita por alguém no rosto daquele boneco, aqueles olhos de vidro que pareciam vivos. Por outro ângulo o boneco estudava faceiramente o rosto cansado daquele homem aparentemente abandonado, barbudo, despenteado, sujo, porém com uma expressão facial de bondade, o boneco percebera nele um coração bom. Seria uma presa fácil.

O homem imaginou que estava sonhando, pois o sonho é como uma caixinha de surpresa que sai do meio de um nevoeiro de imaginações, vontades, desejos e nos transporta para um real imaginário onde temos a sensação de que realmente aconteceu, pois um sonho bem sonhado nos deixa com um sorriso satisfeito de felicidade e com uma vontade louca de sonhar mais, porém como poderia ser um sonho se ele estava frente a frente com aquele palhaço de olhos de vidro. A não ser que fosse um pesadelo. Ele olhou para o boneco e perguntou:

- O que eu faço agora?

- Me leva com você. Ajude-me a viver!

O homem caminhava no meio da neblina fria com o palhaço nos braços e percebia que era seguido pelo gato preto. De repente parou e tentou espantar o bichano.

- Some gato preto! Você traz azar, me dá calafrios e pressentimentos ruins.

O palhaço falou:

- Não é um gato. É uma gata e ela me acompanha aonde eu for. Nosso destino é ficar juntos e foi ela que o trouxe para mim.

O palhaço apontou para um beco escuro, abandonado e falou:

- Aquele é um ótimo lugar para passarmos a noite.

- Naquele beco escuro!

- Pode confiar em mim! Aquele é um abrigo seguro.

O medo às vezes faz o escuro se transformar em um monstro assustador, porém a rua deserta parece não ter fim já que as energias se esgotaram. As pernas não obedecem mais e doem, os pés congelaram, então é melhor descansar naquele beco escuro do que cair na calçada fria e morrer congelado sem forças para reagir.

Ao entrar no beco o andarilho encontrou algumas madeiras secas e acendeu uma fogueira, depois se acomodou no calor do fogo e foi lentamente sendo consumido pelo cansaço e o sono, até que o palhaço falou:

- Você não pode dormir. Tem que ficar acordado. Eu dependo de você para viver, se você dormir, eu morro.

O brilho do fogo, o calor abraçando e convidando para dormir, os olhos de vidro do palhaço refletindo as labaredas e a suplica de suas palavras num pedido de socorro, pedindo o quase impossível para alguém que passara tanto frio. No escuro o brilho dos olhos da gata.

- Eu não consigo ficar acordado!

O fogo aquecendo. O palhaço implorando e os olhos se aproximando.

O homem fecha os olhos se despedindo da vida. O palhaço entra em pânico tentando sobreviver, mas não escuta mais o coração bater e nos seus olhos de vidro o reflexo das patas da gata arranhando.

O dia clareou e da fogueira sobrou só as cinzas, Deitado e com marcas de garras no rosto o homem continua a dormir seu sono eterno com os olhos vitrificados. O palhaço sumiu daquele local levado pela gata ciumenta.

Quando a noite voltar, a gata trará outro coração para que os olhos de vidro do palhaço brilhem novamente, porém sempre ao alcance das suas garras.

ZzipperR
Paulo Ribeiro de Alvarenga

sábado, 18 de junho de 2011

Um samurai que veio de longe




Um samurai que veio de longe



Desde pequeno fico imaginando como são as famílias, seus jeitos de agir, costumes, tradição e cultura, porém toda essa salada de idéias chocadas com a realidade social vivida pelas pessoas me faz concluir que somos como peças de dominós enfileiradas, uma a uma, seguindo uma fila invisível que não pode ser furada e cada peça somente pode ser derrubada pela morte, cada um tem seu tempo real para aceitar ou não essas regras impostas pela raiz de linhagem e o direito de transformá-la de acordo com suas próprias verdades ou afeições tanto carnais como espirituais, porém todas nossas verdades se perdem no tempo a partir do momento em que nossa peça é derrubada ficando caída, morta e esquecida para trás.

Há momentos na vida em que a gente sofre um choque cultural, esse impacto é capaz de mudar nossa forma de pensar e decidir sobre nossas crenças adotando nossas próprias verdades. Um dia isso aconteceu comigo e me transformou, fato que penetrou como uma cunha em toda a minha aprendizagem familiar.

Pensando bem, para que a vida evolua é necessária a miscigenação das raças, esta mistura de comportamentos foi a maneira que a vida encontrou para evoluir modificando tradições e costumes de uma sociedade estanque e egoísta.

Somos frutos de tradições diferentes, nascemos, crescemos e absorvemos seus ideais.
Um menino que gostava de correr com seu cachorro pelas ruas, assim eu vivia feliz com a inocência de um garoto que não tinha consciência dos costumes estabelecidos pelos pais e envolvido com ambos formei minha própria cultura, desta forma de viver estabeleci meus próprios limites, sempre amparado no cotidiano do amor familiar.

Certo dia, depois de brincar o dia todo jogando bola na rua de terra, eu voltava para casa totalmente sujo e despretensioso quando fui abordado pela Dona Maria japonesa, ela era uma senhora idosa que me perguntou:

- Paulinho! Você pode me ajudar a ajeitar o meu quintal?
Eu olhei aquele quintal desarrumado, uma bagunça sem fim e aceitei ajudá-la no dia seguinte. Parece até cultura japonesa esse jeito de viver, porém tudo mudou depois de vários dias limpando aquele quintal.

Coisas e coisas jogadas fora, algumas a Dona Maria nem sabia que ainda existiam. Terminamos e a casa ficou linda, parecia até maior e foi nesse momento que a minha cultura também mudou, pois a japonesa velhinha saiu da casa com um quadro na mão, uma obra de arte totalmente artesanal feita de retalhos, no qual havia um guerreiro samurai sentado em um peixe. Ela me deu o quadro e falou:

- Leve esse quadro para você! Eu o fiz no Japão quando tinha nove anos. Era uma tradição de família. Ele traz sorte e paz para junto de nós, mas já estou velha e preciso que alguém cuide dele, para isso acho que você é a pessoa certa. Pegue! Ele agora é seu.
Eu olhei aquele samurai que veio de longe, do outro lado do mar e fiquei muito feliz, não conseguia conter a minha alegria e o levei para casa.

A cultura da família da Dona Maria agora fazia parte da minha cultura. Nem vi os anos passarem e levá-la embora daquela casa, nunca mais eu tive noticias dela, porém sua cultura sempre esteve presente nos meus dias.

Toda vez que olho para aquele samurai pendurado na parede tenho saudades dela e uma sensação de certeza de que o dia será bom, feliz e tranquilo, isso me traz alivio no coração e na alma.
Mesmo depois de muitos anos passados, a cultura que aquela velha senhora trouxe de tão longe, seja da distância do outro lado do mar ou do tempo da sua infância ainda influencia a minha vida, meu jeito de agir, de pensar e de viver.



Zip...Zip...Zip...ZzipperR.
Paulo Ribeiro de Alvarenga

domingo, 12 de junho de 2011

Luar selvagem



Luar selvagem

A noite fria faz a minha pele arrepiar e a limitação do campo de visão desestabiliza a sensação de segurança, desta maneira temos a impressão de que alguém está nos seguindo e vai nos atacar a qualquer momento. O pior é nunca temos a certeza se o ataque será desse mundo ou do além, pois são criaturas que se aproveitam da escuridão para praticar o mal.

A noite clara trás uma grande lua prateada e essa sensação de medo me faz subir em uma árvore permanecendo quietinho em um galho, do qual consigo avistar a rua de terra sendo engolida pela escuridão densa da mata que me assusta fazendo barulho com o sopro do vento.

Os poderes da lua penetram na mata transformando tudo. Chegou à hora dos predadores saírem para a caça e essa insegurança me deixa em pânico. Mas quem é a presa? Nessa mata escura todos nos transformamos em presa! Cuidado!

A lua maldita lança seus raios em mim e meu corpo começa a arrepiar me transformando em lobo. Finco as garras na árvore e foco meu olhar selvagem na rua de terra à espera de uma vítima, meus olhos vermelhos parecem dois focos de fogo na escuridão e foi nesse momento que ela passou rapidamente como uma gata pela rua e sumiu na mata.

Saltei do galho e fui atrás dela, porém mesmo naquele negrume sombras passavam cruzando o meu caminho. Eu não conseguia definir se eram sombras das nuvens refletidas pela luz da lua ou uma emboscada espreitando a trilha de terra à espera de uma caça.

Num jogo de paciência permaneci estático apenas observando o movimento da mata e num piscar de olhos percebi a gata sair em disparada do seu ponto de camuflagem correndo rua de terra abaixo, logo atrás havia uma sombra a seguindo enquanto eu farejava no ar o cheiro gostoso dela, atento aos movimentos continuei atrás deles, mas mantendo uma distância segura com medo de ser uma arapuca tramada para me capturar.

A escuridão tem o dom de fazer os ponteiros do tempo caminhar lentamente em nossa percepção, com isso as noites parecem mais longas e o cansaço abraça o nosso corpo com braços fortes e quanto mais lutamos contra o sono piores ficam nossos reflexos.

Rapidamente a perdi de vista no meio daquela cortina de neblina misturada com a escuridão. A minha respiração ofegante e cansada diminuía o foco da minha visão e o vento forte e gelado apenas contribuía para atrapalhar a direção a ser tomada. Tanto tempo de perseguição e a noite começou a perder suas forças, assim pude avistar seu esconderijo.

Amanhecia e eu entrava no esconderijo da gata, já me encontrava frente a frente com ela e o dia clareava. Com os olhos fixos em mim ela se aproximou, tocou suas garras em meu rosto e chegou bem próxima da minha boca, eu sentia a sua respiração quente como se aquele lugar fosse o esconderijo do amor, porém eu teria chegado tarde demais.

As gotas de sereno começaram a cair sobre o meu corpo funcionando como antídoto imediato contra minha magia, onde pingava e escorria as gotas o mundo paralelo perdia suas forças dando lugar ao mundo real e a forma humana reaparecia imediatamente. Eu apenas ouvia o som de sinos do lado de fora da gruta, nesse momento confuso apenas a vi correr rua de terra acima e sumir na mata dos sonhos.

Saí da gruta e encontrei uma vaca tranquila em sua caminhada do lado de fora. Ela parecia nem dar atenção ao ocorrido naquele lugar, abracei o lindo animal e caminhei com ele na estrada de terra escutando o tocar do sino amarrado em seu pescoço...Tilim...tilim...tilim...tilim.....

Tem alguma coisa oculta nessa mata, pois havia uma sombra seguindo a gata. Essa conclusão me deixou aflito e com medo sentindo que alguma coisa estava escondida e nos observando. Fiquei com medo. Senti meu corpo arrepiar e falei:

- Melhor sairmos rápido dessa mata....

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Paulo Ribeiro de Alvarenga

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Um pé de Umarizal



Um pé de Umarizal

Naturalmente o tempo modifica o espaço manuseando-o com as mãos da natureza. O material usado na perfeição do acabamento da obra unifica a arte tornando-a excepcional e maravilhosa, um trabalho provido de uma fusão de fenômenos naturais, como a chuva, o sol, a escuridão da noite e a degradação humana.

Um olhar para o sol e a vibração do vento com sua música quase silenciosa abre as cortinas do tempo, os movimentos dessa brisa suavemente gelada desperta a nostalgia da alma abrindo vagarosamente os olhos da memória, que se encontravam inerte durante quase toda a vida.

O destino semeou um espaço em meu caminho, no qual uma semente de Umarizal foi plantada e deu origem a uma grande árvore para que eu escalasse seus galhos em meus devaneios, dando-me a oportunidade de crescer em seus braços.

Sentado em um de seus galhos tornei-me um instrumento do seu poder e meditando como um pássaro fui capaz de me desenhar na grande árvore colhendo suas frutas. Anacé é o grande caule que permanece mesmo depois de tantos anos firme e forte, junto à sua raiz nasceu um pé de jaracatiá que dá vista para um grande campo rodeado de Eçauna, no qual muitos pássaros pousados em suas janelas podem observar tranquilamente e até pousar.

Subo no caule da grande árvore e começo a caminhar nos galhos colhendo frutos diferentes, primeiro alcanço uma Flama, a minha direita colho uma Itamanduaba, estico o braço e pego uma Quipá, subo mais um pouco e avisto uma praça toda enfeitada de Marilia, daquele galho consigo até ver as Colmeias, porém estico o braço para a esquerda e pego uma grande Guaramembé, no topo da árvore uma Maniçoba madura e uma Caranapatuba estragada, me agarro como um menino peralta e desço escorregando pelo pé de Jaracatiá até o chão do grande campo.

Desço na árvore e no tempo me tornando pequeno, revendo na memória as fotografias tiradas pelo meu olhar, fotos tiradas de uma pequena ilha formada com uma vegetação de árvores secas nascidas em uma terra preta. Aquele grande brejo de uma antiga lagoa com fama de assombrada que contorna a ilha está revelado na minha memória. Todo aquele espaço se transforma em um grande pântano capaz de prover aventuras e contar histórias verdadeiras vividas em seu passado. Histórias que foram contadas e não escritas.

Figuras de um passado que estão reveladas em um filme queimado, difícil de revelar, pois mesmo que a gente suba a trilha da Coatinga passando pela Lagoa Branca e entrando pelas Colméias, não se encontra mais a escola de madeira que deveria ter sido tombada como patrimônio histórico de um mundo perdido no tempo, tal qual muitos que caíram da grande árvore e se perderam na neblina evaporando como fumaça. Mesmo entre aqueles que quando meninos jogavam futebol no campinho de terra, ficou a infelicidade de o filme ter sido queimado na memória sem imagem para recordar.

As grandes árvores da praça, a piscina seca, a ilha, o pântano, as histórias de assombração, o campinho de terra, os amigos e a escola de madeira viraram um filme queimado por aqueles que fotografaram com o olhar, porém não foram capazes de revelar na memória. Um passado deixado para trás e excluído no tempo.


Paulo Ribeiro de Alvarenga
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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Caminhando no lado misterioso da vida




Caminhando no lado misterioso da vida


Sonhando acordada num jeito misterioso de viver, ela imaginava um sol enigmático, talvez pelo seu jeito místico de acreditar nas forças externas, tal crença enriquecida em seus objetivos fortalecia mais e mais sua crença na relação futuro e figura, num pacto pessoal centrada e acreditando friamente nos poderes ocultos e atração não só dominadora, mas também previsora como um feche de luz capaz de revelar o que está escrito no mundo escuro do futuro.

Ela percebeu que no movimento intercalado das relações de previsão e realidade, havia uma onda diferenciada de resultados favorecendo um jogo de insinuações providas de impulsos de desejos inseguros e vontades obscuras.

Ela não estava insegura, apenas balançava a cabeça e as mãos relaxando a tensão do corpo e da mente após receber as previsões contidas nas cartas.

Se outra pessoa me contasse, eu não acreditaria, mas foi ela que me contou, já que não era um sonho e sim uma maneira de manusear o desconhecido, um meio sedutor e curioso de ultrapassar os obstáculos descartadores que estão escondidos no universo ao mesmo tempo sedutor e cruel, no qual estamos localizados querendo pegar tudo que está ao nosso alcance e por outro lado somos focados por outros com o mesmo desejo.

As dúvidas na vida da garota começaram a partir do momento em que ela conheceu uma velha cartomante, que era uma mulher serena no equilíbrio das palavras, porém trazia um olhar astuto como de uma raposa na guarda da sua ninhada.

Os segredos evocados na leitura das cartas eram profundos, carregados e temperados num tom do além, parecendo ser produto de uma força maior que a própria verdade, ou seja, trazia um poder sobrenatural de colher fontes futura como se estivesse colhendo frutos maduros em uma árvore da vida.

Olhando aquelas cartas compridas e velhas sendo manuseadas pelas mãos hábeis daquela cartomante parecem ser inofensivas e mesmo parecendo estar segura naquela consulta divinamente proibida, alguma coisa a assustava, pois aquelas cartas compridas e velhas pareciam ter sido usadas por uma eternidade de tempo, já que estavam gastas, desbotadas e até rasgadas.

Que poderes estariam escondidos naquelas figuras? Uma vez que era impossível escolher a carta previsora do destino, mesmo porque elas eram retiradas aleatoriamente, uma a uma, tal quais os dias que com suas diferenças envolve-nos em suas instabilidades.

Pensar que os conflitos da vida dela começaram em cartas embaralhadas por uma cartomante seria um erro, primeiro que não eram simples cartas, não tinha como duvidar, tudo estava escrito nelas. Segundo porque a velha cartomante lia cada detalhe e o que mais impressionava era que em cada carta havia uma figura diferente da lua descrevendo e desvendando os sentidos da vida dela em suas várias faces e fases.

Os dias rolam como a lua e esse girar constante às vezes nos deixa tontos, uma tontura parecendo quase proposital, na qual a lua com sua força magnética influi indiretamente nas nossas vidas por meio dos dias , nos conduzindo intercaladamente expostos às forças do bem ou do mal e para termos consciência de tal condução momentânea que nos domina, basta fazer uma reflexão momentânea pessoal.

A solidão e o desencanto fazem com que ela se afastasse das cartas, mas o coração a trouxe de volta, pois a paixão traidora traz em sua calda uma carência insaciável de atenção, desestabilizando momentaneamente os compassos do coração. Os dias escurecem em tempestades de dúvidas, embriagando com dificuldades e cambaleando nos passos antes firmes, porém agora medrosos e inseguros.

Há tempos ela não recorria às cartas, mas esta insegurança no amor gerou um estado de desconfiança insuportável, no qual o ciúme corrói os pensamentos e as atitudes, consequentemente toda essa agonia a levaram de volta às mãos da velha cartomante.

Se antes o local era assustador, agora é muito mais, pois parecia estar esquecido pelo mundo, já que havia apenas uma mesa e pouca luz, nem as cortinas eram abertas, porém não era isso que interessava à garota, ela queria informações além da sua visão.

A velha cartomante sentou-se calmamente à mesa, serena e com toda a tranquilidade abriu a gaveta e pegou as velhas cartas misteriosas. No exato momento em que as cartas foram pegas, algumas caíram de sua mão sendo imediatamente ignoradas pela mulher, como se não fizessem parte do destino ou fossem descartadas pelo próprio futuro.

As velhas cartas são embaralhadas tranquilamente como se tudo já estivesse previamente escrito. A primeira carta é retirada e colocada sobre a mesa, nela estava estampada a lua plena e bela, cheia de vida entre as nuvens e uma rareada neblina. Ela faz uma pequena observação na carta e interpreta em poucas palavras:

- Houve um pequeno espaço de tempo em que você permaneceu sozinha e reservada, mesmo assim estava radiante e feliz, porém agora quer abrir as cortinas do futuro.

Outra carta foi retirada e colocada na mesa, uma carta velha e rasgada faltando um pedaço. Nesta carta a lua mostrava apenas metade do rosto, parecia manter-se escondida observando a figura de um sol com raios frios e congelados.

- Você está apaixonada por alguém, porém a distância impede de sentir o seu calor.

- Está faltando um pedaço da carta. Como vou saber o que estava nesse pedaço?

- A carta é explícita e clara. Essa parte você já conhece, ou seja, é a terceira figura.

- Então é certo que existe a terceira figura?

- Você sabe a resposta, agora vou virar a última carta.

Outra carta rasgada faltando um pedaço, nela a lua estava crescente e brilhante, o sol timidamente lançava raios de calor sobre ela, porém faltava quase metade da carta.

- Ele gosta de mim?

- gosta.

- E o restante da carta? Como vou saber o que tinha na parte que falta?

- A carta é transparente nos segredos da vida, se não é mostrado, é porque você sabe o que está lá.

- Leia mais uma. Por favor!

- Não posso! Se eu fizesse isso, estaria traindo o meu pacto com o futuro oculto.

Ao levantar da mesa uma carta caiu da mão da velha cartomante, talvez por dificuldade e deficiência dos movimentos das mãos idosas e doentes. Ela imediatamente falou para a garota:

Não pegue essa carta! Porém a garota aproveitando a oportunidade rapidamente se apossou da carta e quando olhou, viu que havia apenas a figura da lua, o sol havia desaparecido de seu futuro.

Ela olhou profundamente para os olhos da velha cartomante e falou:

- A senhora é uma mentirosa! Eu não acredito nessas cartas velhas e rasgadas. Eu devia jogá-las no lixo. Depois se levantou, pegou sua bolsa e saiu apressadamente daquela casa misteriosa e escura. Ela caminhou durante um tempo e resolveu voltar para pagar e pedir desculpas.

Num pensamento confuso em idéias embaralhadas ela voltou à velha casa, ao chegar encontrou apenas a casa velha e abandonada. Não havia ninguém na casa. Qual seria a verdade de tudo aquilo?

Sem encontrar ninguém, ela foi embora caminhando pela calçada, na qual se encontrava uma mulher velha pedindo esmolas, passou sem dar atenção, depois parou, pensou e voltou. Ao chegar àquela senhora, tirou dinheiro da bolsa e entregou nas mãos dela dizendo:

- Aqui está o pagamento da consulta às cartas. Agradeceu e foi embora.

Paulo Ribeiro de Alvarenga
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terça-feira, 26 de abril de 2011

O encanto do canto





O encanto do canto

Coisas, coisas e coisas fazem a nossa vida rolar e tudo em nossa volta são frutos dos nossos próprios pensamentos, já que somos dotados de tão valiosa habilidade e a desperdiçamos inutilmente banalizando o que pensamos.

A imaginação é capaz de ultrapassar as barreiras do sonho, do impossível, do ridículo e dar uma oportunidade visual ao lado cego do mundo.

Que mundo é esse capaz de enxergar a imaginação e quem são as pessoas que habitam esse universo invisível?

Podemos dizer que seja um canto cheio de encanto onde o ser humano em seu inconsciente contrariando suas próprias vontades seja um formador de uma cadeia de labirintos mentais.

Em minha memória escuto o canto de uma sereia que um dia virou estrela e mesmo sem pensar ela continua presente no meu mundo, num canto profundo e inconscientemente fazendo meus olhos brilhar na busca de seu brilho permanecendo eternamente com os olhos elevados ao céu à sua procura. Naquele mar azul recheado de estrelas te procuro e só a encontro nas minhas memórias favoritas.

As palavras da minha poesia não rimam, nem brilham, apenas giram gritando comigo em meu labirinto, porém são mudas para esse mundo fechado que é um enorme labirinto de massa humana.

Ouço a sereia cantando distante! Me chamando! Seu canto de amor não faz parte do sonho e me faz acordar, correr para a janela e no meio da noite procurá-la naquele universo azul e escuro, iluminado apenas pelas estrelas com suas luzes distantes. Eu sei que você está escondida entre elas, piscando, brilhando e num momento inesperado risca o céu deixando um rastro momentâneo de luz, que guia meus olhos até você. Te vejo e fico feliz.

Tudo se passa num canto da imaginação, onde escuto o seu canto no nosso canto de sonhos, você canta me chamando e eu não encontro a saída do meu labirinto para encontrá-la.

As fotografias da minha memória levam a sua marca, marcadas me fazem sonhar e logo essa fronteira é ultrapassada, desta maneira a imaginação flui como uma chave de confiança entre nós, abrindo as portas para um labirinto imaginário, no qual na realidade nunca conseguimos entrar, apenas criar e apreciar.

ZZipperr
paulo Ribeiro de Alvarenga

sábado, 26 de março de 2011

A nenina silenciosa



A menina silenciosa


O barulho ensurdecedor da chuva sobre o telhado chega a assustar com a intensidade e o volume de água caindo em um tão pequeno espaço de tempo. O barulho do vento impressiona fazendo da grande copa da árvore uma expressão de liberdade, como se ela estivesse correndo contra o vento e apreciando a delicia sensorial das gotas geladas da chuva de verão, numa atitude de carinho a chuva aumenta a intensidade de suas gotas fazendo de toda aquela cena natural da vida uma festa com riscos de relâmpagos entre as nuvens escuras, enquanto o som compassado e assustador dos trovões podem ser escutados por pessoas muito distantes.

Tão grande volume de barulho causado pela fúria da natureza faz o mundo silenciar para tentar entendê-la, chegando ao ponto de não ouvirmos uma palavra, nem risos, apenas silêncio focados na expressão natural do vento, da chuva, do clarão assustador dos relâmpagos e a aflição que arrepia quando a voz da natureza faz o mundo tremer com o poder do som de seus trovões.

Apenas o olhar dela focado na chuva domina sua razão mesmo quase perdendo a grande árvore de vista em tamanha tempestade, mas nem tudo nela é silêncio, pois como um intruso na cena o som do seu coração passa a fazer parte daquela harmonia e no contexto de tantas águas o que a natureza estaria sentindo para tanta fúria.

Curiosamente seu coração bate tão forte quanto a força torrente das águas sobre o mundo, talvez seja uma manifestação da natureza contra o amor do homem, que desvirtuado perdeu o poder de visão desvalorizando seu próprio espaço. Chegou a hora da união que parece fazer confusão para aqueles que estão vivendo, convivendo, observando e não entendendo aquele momento de união e o que está acontecendo.

Repentinamente a chuva para e a natureza faz silêncio, sem chuva, sem vento, porém o coração da menina continua batendo cada vez mais forte, mesmo a natureza poderosa silenciou-se para escutar as batidas fortes e pulsantes do amor silencioso da menina, que permanecia quietinha observando da janela da vida enquanto uma pequena lágrima de amor rolava em seu rosto espantado e lindo.

O silêncio foi quebrado pela lágrima de amor e a natureza se manifestou lançando pequenas pedras de granizo. Começou lentamente uma a uma e gradativamente foi aumentando seu volume, penso que a união da natureza e da menina tenha feito com que a natureza também sentisse a dor do amor e deixasse escapar em pequenas gotas de gelo.

A natureza não conseguiu manter o silêncio em suas lágrimas e fez um barulho enorme sobre os telhados inundando tudo com suas gotas geladas, aquela chuva torrencial de granizo não parecia ter fim e só parou quando a menina silenciosa colocou uma das pedrinhas de gelo na boca se unindo à natureza e oferecendo seu amor à vida.
A menina caminhava silenciosa sobre a rua coberta de pedrinhas de gelo, caminhava amando silenciosamente, um jeito silencioso de caminhar entre as pessoas e foi necessário se unir à menina para que a natureza entendesse o seu jeito silencioso de amar.

Um mundo silencioso, no qual muitos se unem para amar e lá está ela com seu jeitinho especial, uma menina especial e linda com sua fórmula de amor incompreendida por muitos, mas plenamente entendida e correspondida por quem compartilha seu carinho e seu amor.

Esse é o jeitinho dela amar. Como será o seu jeito de amar?

ZzipperR
Paulo Ribeiro de Alvarenga

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O vôo da abelhinha


A imaginação é um monte de sementes que a gente joga no ar e nasce um monte de flores coloridas.
No jardim de flores voava uma linda abelhinha, que veio visitar as flores para buscar néctar e polinizá-las.
Todas as flores queriam abraçar um pouquinho a abelhinha, então nasceu essa música:


Música

O vôo da abelhinha

A abelhinha que voa baixinho;
Voa pousando em todos os vasinhos.

É uma abelhinha que voa brincando;
Cantando feliz e rebolando.

A abelhinha que voa pro céu;
Adora brincar e fazer mel.

Chega na flor e fica feliz;
Fazendo careta e mexendo o nariz.

Voa abelhinha!
Voa abelhinha!
Que eu quero ouvir as suas asinhas.


Zummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm


Todas as crianças fazem zummmmm de braços abertos como se estivessem voando...


Paulo Ribeiro de Alvarenga
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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A bruxinha





A bruxinha

Quem não a conhece sente medo dela, pois basta a lua cheia aparecer para ela surgir voando em malabarismos espalhando seus feitiços.

A lua ilumina sua roupa preta e seus olhos brilham como duas bolinhas de fogo fazendo queimar o coração de tudo que ela olha, por isso sinto essas labaredas queimando o meu coração.

Lá vai ela voando com seu chapéu grande e seus cabelos longos espalhados no vento à procura de ingredientes para a sua poção mágica de feitiçaria. Ela pega uma teia de aranha aqui, uma asa de morcego ali, um pouquinho de amor dos apaixonados e uma dose de medo dos apavorados para assombrar nossos pensamentos.

Eu me encanto olhando a bruxinha voar, mas com medo dela pousar, pois uma vez ela me transformou em um sapo, mesmo assim as substâncias da sua bruxaria e o seu jeito de me amaldiçoar, me fez apaixonar.

Ela passa voando pela lua branca, volta voando em frente da lua dourada que com seu voar doce se transforma em uma lua caramelada.

Sou um sapo que vive pulando na lagoa e de cima dessa folha olho ela passar sem me olhar. Oinc! Pulo para outra folha, pulando para lá e para cá, para a bruxinha não me encontrar. O que eu gosto mesmo é de pular!

Eu tenho que tomar cuidado com a bruxinha, mas não consigo. Se ela aparece fico com medo dela, mas se ela some fico apavorado sentindo a falta dela. Escuto gritos de felicidade estampados no ar e vejo a bruxinha indo embora demorando a voltar, o que me faz entender que ela tem outros pântanos para visitar, dessa maneira ela some no escuro me deixando olhando para o céu e pensando:

“Quando será que a bruxinha malvada vai voltar?”

Repentinamente ela surge da escuridão me pegando no pulo em uma grande surpresa, pousa perto de mim, se aproxima e fala:

- Vou jogar a minha poção mágica em você e te transformar novamente.
- Tenha piedade de mim! Em humano não!

- Então vou transformá-lo no que você era.

Ela enfiou a mão no saco mágico retirando uma poção estranha e jogou sobre mim. Naquele exato momento comecei a voltar às origens, meu corpo se modificou e voltei a ser uma serpente rastejando, nadando e subindo nas árvores do pântano, agora quando vejo a bruxinha malvada voando, fico camuflado entre os galhos, mas meu coração continua queimando pelo feitiço dela.

Ela voa dependurada na vassoura, plantando bananeira, em pé e surfando nas ondas do vento, depois passa voando e gritando na frente da lua para ter certeza que a estou vendo passar.

Paulo Ribeiro de Alvarenga
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