
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Um pé de Umarizal
Um pé de Umarizal
Naturalmente o tempo modifica o espaço manuseando-o com as mãos da natureza. O material usado na perfeição do acabamento da obra unifica a arte tornando-a excepcional e maravilhosa, um trabalho provido de uma fusão de fenômenos naturais, como a chuva, o sol, a escuridão da noite e a degradação humana.
Um olhar para o sol e a vibração do vento com sua música quase silenciosa abre as cortinas do tempo, os movimentos dessa brisa suavemente gelada desperta a nostalgia da alma abrindo vagarosamente os olhos da memória, que se encontravam inerte durante quase toda a vida.
O destino semeou um espaço em meu caminho, no qual uma semente de Umarizal foi plantada e deu origem a uma grande árvore para que eu escalasse seus galhos em meus devaneios, dando-me a oportunidade de crescer em seus braços.
Sentado em um de seus galhos tornei-me um instrumento do seu poder e meditando como um pássaro fui capaz de me desenhar na grande árvore colhendo suas frutas. Anacé é o grande caule que permanece mesmo depois de tantos anos firme e forte, junto à sua raiz nasceu um pé de jaracatiá que dá vista para um grande campo rodeado de Eçauna, no qual muitos pássaros pousados em suas janelas podem observar tranquilamente e até pousar.
Subo no caule da grande árvore e começo a caminhar nos galhos colhendo frutos diferentes, primeiro alcanço uma Flama, a minha direita colho uma Itamanduaba, estico o braço e pego uma Quipá, subo mais um pouco e avisto uma praça toda enfeitada de Marilia, daquele galho consigo até ver as Colmeias, porém estico o braço para a esquerda e pego uma grande Guaramembé, no topo da árvore uma Maniçoba madura e uma Caranapatuba estragada, me agarro como um menino peralta e desço escorregando pelo pé de Jaracatiá até o chão do grande campo.
Desço na árvore e no tempo me tornando pequeno, revendo na memória as fotografias tiradas pelo meu olhar, fotos tiradas de uma pequena ilha formada com uma vegetação de árvores secas nascidas em uma terra preta. Aquele grande brejo de uma antiga lagoa com fama de assombrada que contorna a ilha está revelado na minha memória. Todo aquele espaço se transforma em um grande pântano capaz de prover aventuras e contar histórias verdadeiras vividas em seu passado. Histórias que foram contadas e não escritas.
Figuras de um passado que estão reveladas em um filme queimado, difícil de revelar, pois mesmo que a gente suba a trilha da Coatinga passando pela Lagoa Branca e entrando pelas Colméias, não se encontra mais a escola de madeira que deveria ter sido tombada como patrimônio histórico de um mundo perdido no tempo, tal qual muitos que caíram da grande árvore e se perderam na neblina evaporando como fumaça. Mesmo entre aqueles que quando meninos jogavam futebol no campinho de terra, ficou a infelicidade de o filme ter sido queimado na memória sem imagem para recordar.
As grandes árvores da praça, a piscina seca, a ilha, o pântano, as histórias de assombração, o campinho de terra, os amigos e a escola de madeira viraram um filme queimado por aqueles que fotografaram com o olhar, porém não foram capazes de revelar na memória. Um passado deixado para trás e excluído no tempo.
Paulo Ribeiro de Alvarenga
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