terça-feira, 12 de agosto de 2014

O tempo, a ponte e o construtor de pontes.

Às vezes eu fico imaginando o que seria o tempo? O que é o tempo para você? Depois de muito pensar cheguei à conclusão de que o tempo seja apenas uma ponte pela qual caminhamos toda vez que sentimos saudades.
Um dia eu conheci um construtor de pontes chamado Florisvaldo, que me falou assim: Eu nasci em ilhéus e me criei em Itabuna, quando eu era menino, gostava muito de brincar jogando bolinhas de gude, empinando pipas e rodando pião.
Foi nesse exato momento que percebi que estávamos em cima de uma ponte, uma ponte no tempo, por onde corríamos e éramos capazes de observar instantaneamente e penetrar no passado.
Continuamos correndo por aquela longa ponte no tempo, as imagens passando e nelas os amigos também estavam lá. Um deles, o Elias chamou Florisvaldo para pescar e nadar no Rio Salgado, mas não podíamos parar, pois queríamos saber até onde aquela ponte do tempo poderia nos levar.
Repentinamente ele parou, apontou para uma menina que estava brincando sozinha e carinhosamente falou: Aquela é a minha irmã Hilda!  Olhei e vi que ela estava brincando com umas bonecas de pano que a mãe fazia com tanto amor. As bonecas eram lindas! A boquinha, os olhinhos, os cabelos, deu até vontade de brincar também, mas tínhamos que continuar, pois aquela ponte no tempo nos levava para bem mais longe.
Olhávamos para o rio e víamos cobras nadando para pegar sapos!
Corremos! Corremos e corremos naquela ponte do tempo e chegamos à Floresta Azul no interior da Bahia. Nem sei que ano era! Só sei que paramos sobre uma ponte feita de pedra e ferro. Perguntei qual era o nome daquela ponte e ninguém soube responder, então eu falei: Eu conheço uma das pessoas que construíram essa ponte e ela deveria se chamar: “A ponte do Florisvaldo”.
Pensei em chamar o Florisvaldo para irmos ao Barro preto, mas quando olhei, ele não estava mais do meu lado, havia fugido para encontrar o pai na roça. Sai para procurar ele e percebi que ali era o final da ponte, pois Florisvaldo era um menino de Quatro ou cinco anos, que voltou e me alertou: Cuidado! No final da ponte tem uma cobra! Meu pai matou uma cobra com rabo de veludo que media uns cinco metros!
Procuramos a cobra no meio da plantação de mandioca, no meio dos pés de abacaxi e de repente encontramos a cobra em uma toca. Realmente era uma cobra muito grande, então resolvemos ir embora e foi nesse exato momento que escutamos um barulho estranho e resolvemos ver o que era: Vocês podem não acreditar, mas havia um homem rolando na trilha dos animais, ele rolava como se fosse um animal. Florisvaldo olhou aquela cena e gritou: Corre que ele vai virar lobisomem!
Voltamos correndo naquela longa ponte do tempo! Nós corríamos e Florisvaldo crescia! Corria! Corria e o tempo passando até que chegamos ao presente e hoje Florisvaldo está com oitenta anos.
Saí da ponte do tempo no meio de uma neblina com garoa fria parecendo são Paulo de 1955! Florisvaldo faz essa mesma viagem todos os dias, pois todos os nordestinos têm saudades da Bahia.
Uma última olhada na ponte do tempo construída por Florisvaldo e o avistei com os filhos, os netos e os bisnetos caminhando em seus pensamentos.
Fui embora pensando: Por mais que o tempo passe! Sempre vai existir uma ponte entre mim e você!

Paulo Ribeiro de Alvarenga
Criador de vaga-lumes

Iluminando pensamentos

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Desfile de bonecas

Certa manhã, eu encontrei uma senhora muito sábia que me contou uma história acontecida há muitos anos atrás, ela contava com detalhes tão perfeitos que parecia ter feito parte da vida dela.
Não sei se foi um milagre de São Manuel, mas foi lá que aconteceu essa história!
Naquela pequena cidade existia uma fazenda com uma grande plantação de café, onde as crianças corriam brincando e saboreando o doce de alguns grãos maduros.
Os dois irmãos gostavam de correr brincando e parando para apreciar a beleza dos passarinhos que moravam naquele lugar. Os pássaros eram tão bonitos que faziam o pensamento das crianças voar para lugares tão distantes, que até hoje ainda continua voando no olhar e nas palavras daquela sábia senhora.
Ela contava a história pausadamente, parecendo estar distante, tão distante que fazia parte de cada momento daquele conto.
Num momento mágico do tempo ela se lembrou da mãe e começou a contar das festas que a mãe fazia com pão doce, salgados e doce de mamão.
Na fazenda tinha uma mina de água que brotava do chão, do meio das pedras e esse era um dos lugares preferido das crianças, que adoravam tomar aquela água cristalina e geladinha, encher os garrafões para casa e depois brincar na água. Eu acho que aquela era a mina dos desejos, pois bastava saborear a água geladinha e fazer um desejo que ele se realizaria. Foi assim que o desfile de bonecas aconteceu!
Pelo sorriso, já percebi que aquele era o grande momento da história, pois aquela senhora me deixou ali ouvindo e entrou na história movimentando as mãos como se estivesse tocando na boneca, fazendo suas roupinhas e guardando em caixinhas de papelão. Ela falava das irmãs e das amigas desfilando suas bonecas, algumas de palha e outras de pano, mas ela gostava mesmo era das bonecas feitas de pano.
As meninas brincavam desfilando com suas bonecas e a noite chegou, escureceu demais, tanto que ninguém enxergava mais nada e foi nesse exato momento que o irmão dela chegou com as mãos fechadas e uma luz piscando entre seus dedos, depois abriu a mão e gritou:
- Essa luz é para que vocês nunca mais se esqueçam desse desfile de bonecas!
Ele abriu a mão e um vaga-lume voou piscando sua linda luz verdinha.
A senhora olhou para mim e falou:
- Eu nunca mais me esqueci daquele dia! Lentamente se levantou e em passos lentos foi embora.

Paulo Ribeiro de Alvarenga
Criador de vaga-lumes

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